Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUINTO DOMINGO DE PÁSCOA - ANO B
Jo 15, 1-8
“Sem mim, vocês não podem
fazer nada”
Oração do dia
Ó Deus, Pai de bondade, que nos
redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que crêem em Cristo a
liberdade verdadeira e a herança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (João 15,1-8)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
15,1 Disse Jesus:
“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der
fruto em mim, ele o cortará; 2 e podará todo o que der fruto, para que produza mais
fruto. 3 Vós já
estais puros pela palavra que vos tenho anunciado. 4 Permanecei
em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não
permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não
permanecerdes em mim. 5 Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim
e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6 Se alguém
não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de
ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á. 7 Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras
permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito. 8 Nisto é
glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos”.
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Esse texto
inicia a seção do quarto evangelho que tem os trechos que mais se aproximam aos
discursos da vida pública de Jesus nos Evangelhos Sinóticos. Aqui temos um exemplo
raro de uma parábola em João - a da vinha e dos ramos, uma metáfora que
expressa o amor íntimo entre Jesus e os seus discípulos. Em contraste, o
segmento seguinte (15, 18-16, 4) vai tratar do ódio do mundo para com os seus
seguidores.
No Antigo
Testamento freqüentemente se retrata Israel como a vinha (ou videira) escolhida
de Deus, que Ele tem cuidado com muito amor, mas que deu frutas amargas. Na
primeira parte de João vimos como Jesus substitui as instituições e festas
judaicas; agora, Ele se manifesta como a vinha do Novo Israel. Se ficarem
unidos a Ele, os cristãos darão somente frutos que agradarão ao vinhateiro - o
Pai. No Antigo Testamento, Deus muitas vezes ameaçava podar ou até desenraizar
a vinha improdutiva. Embora a vinha do Novo Israel não falhará, sempre haverá
ramos secos a serem tirados e queimados.
A Bíblia
sempre insiste que o fruto que Deus quer é a prática da justiça e
solidariedade. Este tema perpassa a Bíblia toda, tanto no Antigo como no Novo
Testamento. Mas, os cristãos somente poderão dar este fruto agradável se
ficarem unidos a Jesus, pois “sem mim, nada poderão fazer”. Mais uma vez
volta-se à idéia que é pelos frutos que se conhece a árvore.
Assim nos leva a refletir sobre os frutos que mais de 500 anos de
evangelização têm dado no Brasil e na América Latina, como fez alguns anos
atrás a Conferência de Aparecida e o documento que foi publicado por ela. Com
uma das piores distribuições de renda no mundo, com uma das maiores
concentrações de terras nas mãos de poucos, com indígenas e pobres
marginalizados, com tanta gente sofrida, talvez muita coisa tenha que ser
podado pelo Pai, para que realmente sejamos a verdadeira videira na vinha do
Senhor. Como dizia o mártir salvadorenho Dom Oscar Romero: “Uma religião de
Missa Dominical, mas de semanas injustas, não agrada o Deus da vida. Uma
religião de muita reza, mas de hipocrisias no coração, não é cristã. Uma Igreja
que se instala só para estar bem, para ter muito dinheiro, muita comodidade,
porém que não ouve o clamor dos injustiçados, não é a verdadeira Igreja do
nosso Divino Redentor” (Discurso 04.12.1977). Sem dúvida, há muita coisa
realmente boa acontecendo nas comunidades cristãs do Brasil, bem como na
sociedade civil em geral, mas o teste mesmo é a construção de uma sociedade baseada
nos princípios de justiça, fraternidade e solidariedade e não no lucro,
competitividade e na lei da selva.
Hoje, diante da recessão mundial, um dos sentimentos mais comuns em
todas as camadas da sociedade é a da impotência. Parece que estamos sem forças
diante do rolo opressor do sistema hegemônico, do neoliberalismo, da
globalização, das forças do mercado. Seria fácil cairmos na tentação de
desistir da luta para melhorar a sociedade, pois os resultados parecem ínfimos.
Por isso urge cada vez mais ficarmos unidos a Jesus, na oração e no
compromisso, a Ele que parecia também um derrotado, mas que teve a vitória
final na Ressurreição. Se sem Ele nada podemos fazer, o contrário é também
verdade - com Ele tudo podemos! Talvez não da maneira que gostaríamos, mas sem
dúvida como colaboradores d’Ele na construção do Reino de Deus.
As dificuldades enfrentadas
pelos movimentos populares em favor dos excluídos e pelos setores mais
comprometidos das Igrejas – às vezes dentro da própria Igreja - os sofrimentos
dos mártires da caminhada e das suas famílias, são podas - mas podas que darão
mais fruto ainda. Como as forças opressoras do Império Romano, aliadas às
elites do judaísmo, não conseguiram matar o projeto de Jesus, nem as forças
opressoras de hoje conseguirão matar o crescimento do Reino entre nós - uma vez
que fiquemos unidos a Ele, e entre nós, pois Jesus mesmo nos disse, “sem mim,
nada poderão fazer”!
Salmo responsorial 21/22
Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembléia!
Sois meu louvor em meio à grande assembléia;
cumpro meus votos ante aqueles que vos temem!
Vossos pobres vão comer e saciar-se,
e os que procuram o Senhor o louvarão.
“Seus corações tenham a vida para sempre!”
Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembléia!
Lembrem-se disso os confins de toda a terra,
para que voltem ao Senhor e se convertam,
e se prostrem, adorando, diante dele
todos os povos e as famílias das nações.
Somente a ele adorarão os poderosos,
e os que voltam para o pó o louvarão.
Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembléia!
Para ele há de viver a minha alma,
toda a minha descendência há de servi-lo;
às futuras gerações anunciará
o poder e a justiça do Senhor;
ao povo novo que há de vir, ela dirá:
“Eis a obra que o Senhor
realizou!”
Senhor, sois meu louvor em meio à grande assembléia!
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