quarta-feira, 17 de outubro de 2012

FESTA DE CRISTO REI


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

FESTA DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, 
REI DO UNIVERSO - ANO B

Jo 18, 33b-37

Todo aquele que é da verdade, escuta a minha voz


Oração do dia

Deus eterno e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado Filho, rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (João 18,33-37)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo: 18 33 Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?”
34 Jesus respondeu: “Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?”
35 Disse Pilatos: “Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que fizeste?”
36 Respondeu Jesus: “O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu Reino não é deste mundo”.
37 Perguntou-lhe então Pilatos: “És, portanto, rei?” Respondeu Jesus: “Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz”.
Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho
  
Como é de costume na Igreja Católica, hoje, o último domingo do Ano Litúrgico, celebra-se a festa litúrgica de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. A festa foi estabelecida na época dos governos totalitários nazistas, fascistas e comunistas, nos anos antes da Segunda Guerra, para enfatizar que o único poder absoluto é de Deus. Nos dias de hoje, em que milhões padecem as consequências de um novo tipo de totalitarismo disfarçado, o do poder econômico inescrupuloso, torna-se atual a inspiração original da festa - que Deus é o único Absoluto. Em um mundo que não é ateu, mas idolátrico, pois presta culto ao lucro, a festa de hoje nos desafia para que revejamos as nossas atitudes e ações concretas - para descobrir o que é para nós, na verdade, o valor absoluto das nossas vidas.

O texto é tirado da paixão segundo João - o diálogo entre Jesus e Pilatos sobre a verdadeira identidade de Jesus. Com a ironia que lhe é típico, João faz com que Pilatos - o representante do poder absoluto da época, o Império Romano - apresenta Jesus como Rei, o que Ele é na verdade, mas não da maneira que Pilatos possa entender. O Reino de Jesus é o oposto do Reino do Império Romano - não é opressor, nem injusto, nem idolátrico, mas o Reino da justiça, fraternidade, solidariedade e partilha, o Reino do Deus da Vida.

É exatamente por ter semeado este Reino que Jesus deve morrer - aliás não morrer, mas ser matado, o que é diferente. Pilatos - como acontece nos outros Evangelhos também - demonstra isso quando ele deixa claro quem entregou Jesus, pedindo a sua morte. Não foi o povo, mas, os sumos sacerdotes que o entregaram (v. 35). É importante entender o que isso significa, pois se Jesus foi matado, houve algum motivo, e houve alguém que o matasse. Os sumos sacerdotes eram, no tempo de Jesus, todos nomeados pelos romanos, dentro do partido dos saduceus, o partido da elite jerosalemita, donos de terras e do comércio, e chefes do Templo. O Templo funcionava como Banco Central, centro de arrecadação de impostos, e lugar de câmbio monetário, uma vez que não se aceitava nele a moeda corrente. Jesus, portanto, foi assassinado pelo poder político, econômico e religioso, coniventes com o poder imperialista, representado por Pilatos. Pois, o Reino de Deus se opõe frontalmente com qualquer reino opressor, como era o de Roma.

A realidade vivida por Jesus continua hoje. O seguimento de Jesus, na construção de um Reino de justiça e paz, do shalom de Deus, necessariamente vai entrar em conflito com os reinos que dependem da exploração e da injustiça. Normalmente, esses poderes primeiro vão tentar cooptar a Igreja, para que, em lugar de ser voz profética diante das injustiças, torne-se porta-voz dos valores desses reinos. Não faltarão incentivos, monetários e outros, para que as Igrejas caiam nesta cilada. Por isso, como nos advertiram os textos nos últimos domingos, é mister ficarmos sempre vigilantes, para que verifiquemos se a nossa vida prática está mais de acordo com o Reino de Deus ou o reino de César.
Para João, Jesus traz a grande crise da história. Diante da verdade, que é Ele, todos têm que se posicionar. Ele, como todo profeta, não causa a divisão, mas desmascara a divisão que existe dentro da sociedade, a divisão entre o bem e o mal, entre um projeto da morte e um projeto da vida, uma divisão que permeia todos os elementos da sociedade. Diante d’Ele, não há lugar para meio-termo - todos têm que optar. Por isso, a nossa festa de hoje, longe de ser algo triunfalista, nos desafia para que façamos um exame de consciência - tanto individual como eclesial e comunitário - para verificar se o nosso Rei é realmente Jesus, ou se, mesmo de uma maneira disfarçada ou inconsciente, continua sendo César!


Salmo 92/93

Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!

Deus é rei e se vestiu de majestade,
revestiu-se de poder e de esplendor!

Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!

Vós firmastes o universo inabalável,
vós firmastes vosso trono desde a origem,
desde sempre, ó Senhor, vós existis!

Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!

Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa
pelos séculos dos séculos, Senhor!

Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!





33º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

TRIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Mc 13, 24-32

O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão 


Oração do dia

Senhor nosso Deus, fazei que a nossa alegria consista em vos servir de todo o coração, pois só teremos felicidade completa servindo a vós, o criador de todas as coisas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (Marcos 13,24-32)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 13,24 disse Jesus a seus discípulos: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor;
25 cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas.
26 Então verão o Filho do homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória.
27 Ele enviará os anjos, e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu.
28 Compreendei por uma comparação tirada da figueira. Quando os seus ramos vão ficando tenros e brotam as folhas, sabeis que está perto o verão.
29 Assim também quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está próximo, às portas.
30 Em verdade vos digo: não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
31 Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
32 A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai”.
Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho

O texto de hoje nos apresenta diversas dificuldades de interpretação, pois, está saturado com conceitos apocalípticos, referências veladas a possíveis eventos históricos e referências tiradas de escritos do tempo do Antigo Testamento, muitas dos quais desconhecidos por nós. Porém, a sua mensagem central fica clara - o triunfo final do Filho do Homem, mandado por Deus para estabelecer o seu Reino. A linguagem vetero-testamentária de sinais cósmicos, a figura do Filho do Homem e a reunião dos eleitos de Deus são unidas em um contexto novo, em que a vinda escatalógica de Jesus como Filho do Homem se torna o evento central. A sua vinda gloriosa no fim dos tempos servirá como prova da vitória de Deus - e a expectativa desta chegada serve como base da vigilância paciente que é recomendada aos discípulos ao longo de todo o Discurso Escatalógico de Marcos.

Os sinais cósmicos que antecederão o fim fazem referência a textos do Antigo Testamento: Is 13, 10, Ez 32, 7; Am 8, 9; Jl 2, 10.31; 3, 1-5; Is 34, 4; Ag 2, 6.21. Mas, em nenhum lugar no Antigo Testamento se referem à vinda do Filho do Homem - é uma novidade do Evangelho. A lista desses sinais é uma maneira de dizer que toda a citação assinalará a sua vinda final. A descrição da chegada do Filho do Homem, rodeado das nuvens, é tirada do livro de Daniel 7, 13, mas, aqui se refere claramente a Jesus e não à figura angélica “em forma humana” do livro apocalíptico de Daniel. A ação de Jesus em reunir os eleitos é o oposto de Zc 2, 10. Este reunir-se dos eleitos do seu povo por parte de Deus se encontra em Dt 30, 4; Is 11, 11.16; 27,12. Ez 39, 7 etc. - mas nunca no Antigo Testamento é o Filho do Homem que faz esse trabalho.
A segunda parte do texto consiste em uma parábola (vv. 28-29), um ditado sobre a hora do fim (v. 30), sobre a autoridade de Jesus ( v. 31) e de novo sobre a hora (v. 32). “Nem sempre fica claro a que se refere - o que se fala sobre essas coisas” acontecerem “nessa geração” tem como contrabalanço o v. 32 que diz que somente Deus sabe a hora exata. A parábola sobre os sinais claros da chegada do fim (vv. 28-29) tem em contraposição a parábola da vigilância constante (vv. 33-37). Mas, continua clara a mensagem básica - a vitória final do projeto de Deus, concretizada através de Jesus, o Filho do Homem. Mas, a certeza dessa vitória não dispensa a atitude de vigilância constante por parte dos discípulos, para que não se desviem do caminho.
Pode parecer confuso o nosso texto - e para nós hoje, de uma certa forma o é. Mas, inserido no contexto do Discurso Escatalógico (referente aos tempos finais) do Evangelho, nos traz uma mensagem de esperança e uma advertência. A esperança nasce do fato de que a vitória de Deus é garantida - um elemento fundamental em todo apocaliptismo. A advertência está na necessidade de vigilância constante, para que não percamos a hora do Filho. Em um mundo de desesperança e falta de ânimo por parte de muitos, o texto convida-nos, os discípulos, à uma atitude positiva que nos leva a um engajamento maior em prol da construção do Reino entre nós. Mas, também nos desafia para que estejamos sempre vigilantes para não sermos cooptados pela sociedade vigente, opressora e consumista, que muitas vezes se baseia em princípios contrários aos do Reino de Deus. As palavras de Jesus têm um valor permanente, para que possamos julgar as diversas propostas de vida que o mundo nos apresenta. “O céu a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.

Salmo 15/16

Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!

Ó Senhor, sois minha herança e minha taça,
meu destino está seguro em vossas mãos!
Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,
pois, se o tenho a meu lado, não vacilo.

Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!

Eis por que meu coração está em festa,
minha alma rejubila de alegria
e até meu corpo no repouso está tranqüilo;
pois não haveis de me deixar entregue à morte
nem vosso amigo conhecer a corrupção.

Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!

Vós me ensinais vosso caminho para a vida;
junto a vós, felicidade sem limites,
delícia eterna e alegria ao vosso lado!

Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!





32º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

TRIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Mc 12, 38-44

Esta viúva pobre depositou mais do que todos os que depositaram dinheiro

Oração do dia
Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.   
Evangelho (Marcos 12,38-44)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 12,38 disse Jesus: “Guardai-vos dos escribas que gostam de andar com roupas compridas, de ser cumprimentados nas praças públicas
39 e de sentar-se nas primeiras cadeiras nas sinagogas e nos primeiros lugares nos banquetes.
40 Eles devoram os bens das viúvas e dão aparência de longas orações. Estes terão um juízo mais rigoroso”.
41 Jesus sentou-se defronte do cofre de esmola e observava como o povo deitava dinheiro nele; muitos ricos depositavam grandes quantias.
42 Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de apenas um quadrante.
43 E ele chamou os seus discípulos e disse-lhes: “Em verdade vos digo: esta pobre viúva deitou mais do que todos os que lançaram no cofre,
44 porque todos deitaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, da sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento”.

Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho

No Evangelho de Marcos, Jesus, na sua última semana de vida muito agitada em Jerusalém, também encontra um sinal positivo - o gesto da viúva pobre que depositou duas das menores moedas da época no cofre do Templo! Ela aparece no texto de hoje em contraste com um certo tipo de liderança religiosa daquele tempo. O texto relata dois acontecimentos (vv. 38-40; vv. 41-44). O primeiro condena os escribas hipócritas, que concretizam tudo que Jesus quer que os seus discípulos evitem. Ele adverte contra o seu anseio de ter prestígio e honras (vv. 38b-39) - perigo constante para os líderes religiosos de todos os tempos e de todas as religiões! - e o fato de eles esgotarem os recursos das viúvas, enquanto demonstravam a aparência de piedade (v. 40). Embora essa passagem seja muito mais suave do que Mateus 23, também tem sido usada historicamente para atacar o povo judeu. Mas, ele não critica todos os escribas e muito menos todos os judeus, mas somente um certo tipo de escriba (vv. 28-34), os que desviavam o verdadeiro sentido do seu serviço religioso.

Na antiguidade, os escribas podiam servir como administradores dos bens das viúvas. Muitas vezes cobravam uma parte dos bens como pagamento - e um escriba com fama de piedade tinha muitas possibilidades de ganhar clientes! Por causa da sua avareza e hipocrisia, esses escribas receberão uma condenação severa no Dia do Juízo, o tribunal mais alto que existe!
Do outro lado, a viúva pobre, embora contribua com quase nada em termos monetários, representa a verdadeira espiritualidade dos seguidores de Jesus. Pois, ela contribui com tudo o que ela tinha para viver, e não com o supérfluo (v. 44). Ela simboliza o grupo com a espiritualidade dos “pobres de Javé” - os que depositavam toda a sua confiança em Deus e não nas riquezas nem no poder. Já em outros textos (Mc 10, 17-30), Jesus enfatizou que era difícil para um rico entrar no Reino de Deus - pois facilmente ele confia nas suas riquezas e não no poder de Deus.
A viúva anônima demonstra o fundamento dessa espiritualidade dos “pobres de Javé” - gratuidade e doação total, aliadas a uma confiança absoluta em Deus. Contrastando a sua ação com a atitude dos ricos, Jesus implicitamente condena o sistema do Templo, pois ele explorava os mais pobres, exigindo até a oferta dos seus parcos recursos, para que pudessem ter acesso a Deus! Assim, Jesus mostra que Deus rejeita qualquer religião que explora e se enriquece às custas dos pobres. Hoje não é nada raro encontrar grupos religiosos que exploram os mais pobres em nome de Deus, com falsas promessas.
O texto de hoje nos convida para que nos examinemos a nós mesmos, para verificar se as nossas práticas religiosas estejam revelando o rosto verdadeiro do Deus dos pobres, e para que evitemos totalmente quaisquer projetos - mesmo em nome de Deus - que tiram dos mais necessitados o pouco que eles ainda têm. Também somos convidados a evitar os critérios humanos em julgar as pessoas, pois, pode acontecer que alguém doe muito, sem que lhe custe nada, pois vem do seu supérfluo, enquanto frequentemente a “moeda da viúva”, oferecida pelos pobres, tem muito mais valor diante do Senhor. Somos convidados a olhar e enxergar as coisas com os olhos de Deus e não da sociedade materialista e consumista de hoje.

Salmo 145/146

Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!

O Senhor é fiel para sempre,
fez justiça aos que são oprimidos;
ele dá alimento aos famintos,
é o Senhor quem liberta os cativos.

Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!

O Senhor abre os olhos aos cegos,
o Senhor faz erguer-se o caído;
o Senhor ama aquele que é justo.
É o Senhor quem protege o estrangeiro,
quem ampara a viúva e o órfão,
mas confunde os caminhos dos maus.

Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!

O Senhor reinará para sempre!
Ó Sião, o teu Deus reinará
para sempre e por todos os séculos!

Bendize, minha alma, bendize ao Senhor!