Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
FESTA DE TODOS OS SANTOS - ANO B
Mt 5,1-12a
“Fiquem alegres e contentes, porque será grande para
vocês a recompensa nos céus”
Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, que
nos dais celebrar numa só festa os méritos de todos os santos, concedei-nos,
por intercessores tão numerosos, a plenitude da vossa misericórdia. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho - Mt 5,1-12a
+ Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus
5,1-12a
Naquele tempo:
5,1Vendo Jesus
as multidões, subiu ao monte e sentou-se.
Os discípulos aproximaram-se,
2e Jesus
começou a ensiná-los:
3'Bem-aventurados
os pobres em espírito,
porque deles é o Reino dos Céus.
4Bem-aventurados
os aflitos,
porque serão consolados.
5Bem-aventurados
os mansos,
porque possuirão a terra.
6Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
7Bem-aventurados
os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
8Bem-aventurados
os puros de coração,
porque verão a Deus.
9Bem-aventurados
os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
10Bem-aventurados
os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos Céus.
11Bem-aventurados
sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo,
disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de
mim.
12aAlegrai-vos
e exultai,
porque será grande a vossa recompensa nos céus.
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Um
primeiro elemento que chama a atenção é o fato de que a primeira e a última
bem-aventurança estão com o verbo no presente - o Reino já é dos pobres em
espírito e dos perseguidos por causa da justiça - na verdade, as mesmas
pessoas, pois os que buscam a justiça são “pobres em espírito”. Eles já vivem a
dependência total de Deus, pois só com Ele esses valores podem vigorar. Mas,
quem luta pela justiça será perseguido - e quem não se empenha nessa luta
jamais poderá ser “pobre em espírito”.
As
outras bem-aventuranças traçam as características de quem é pobre em espírito. É
aflito, por causa das injustiças e do sofrimento dos outros, causados por uma
sociedade materialista e consumista. É manso, não no sentido de passivo, mas
porque não é movido pelo ódio e violência que marcam a ganância e a truculência
dos que dominam, “amansando” os pobres e fracos.
Tem
fome da justiça do Reino, não a dos homens, que tantas vezes não passa de uma
legitimação oficial da exploração e privilégio, pois frequentemente as leis são
formuladas e aprovadas por esses mesmos grupos dominantes em prol dos seus
próprios interesses e benefício. Tem coração compassivo, como o próprio Pai do
Céu, e é “puro de coração”, sem ídolos e falsos valores. Promove a paz, não “a
paz que o mundo dá” (Jo 14, 27), mas o “shalom”, a paz que nasce do projeto de
Deus, quando existe a justiça do Reino. Cumpre lembrar que “shalom” não é
somente a ausência de briga e conflito explícitos, mas é a presença de tudo o que
Deus deseja para todos os seus filhos e filhas sem distinção. É a presença do
Reino de vida plena!
Mas,
Jesus deixa clara a consequência de assumir esse projeto de vida - a perseguição!
Pois um sistema baseado em valores anti-evangélicos não pode aguentar quem a
contesta e questiona, algo que a história dos mártires do nosso continente
testemunha muito bem. Qualquer igreja cristã que é bem aceita e elogiada pelo
sistema hegemônico precisaria se questionar sobre a sua fidelidade à vivência
das bem-aventuranças do Sermão da Montanha. O martírio (que na sua raiz
significa “testemunho”) é a pedra-de-toque dessa fidelidade. O martírio nem
sempre se dá pela morte física, mas muitas vezes pela morte lenta ao egoísmo e
às ideologias de dominação, em uma vivência fiel da luta pela justiça do Reino
de Deus. É a concretização da declaração de Jesus: “quem quiser me seguir,
renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga” (Mt 16, 24)
A festa de hoje
não é tanto para recordamos os nomes e façanhas dos grandes Santos/as
conhecidos/as, por valioso que isso possa ser, mas também para que lembremos de
tantos milhões de pessoas, de todas as raças, culturas e religiões, que viviam
a santidade no anonimato das suas vidas diárias, na luta de viver na fidelidade
aos valores do Reino. O grande milagre que mostra a santidade é a vivência fiel
em busca do bem, na dedicação à família, à comunidade e à sociedade, sempre
procurando cumprir a vontade de Deus, seja qual for a nossa experiência d’Ele. Se
examinarmos as nossas vidas, veremos que já conhecíamos muitas pessoas santas,
cujos nomes jamais serão conhecidos, mas que servem como exemplo dos
verdadeiros valores para nós. Que a celebração nos anime na busca da vivência
fiel dos valores do Evangelho, não em grandes milagres, mas no dia a dia da
nossa vocação, seja o que for.
Salmo - Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)
R. É assim a geração dos que procuram o Senhor!
1Ao
Senhor pertence a terra e o que ela encerra,*
o mundo inteiro com os seres que o povoam;
2porque ele a tornou firme sobre os mares, *
e sobre as águas a mantém inabalável.
R. É assim a geração dos que procuram o Senhor!
3"Quem subirá até o monte do Senhor, *
quem ficará em sua santa habitação?"
4a"Quem tem mãos puras e inocente coração, *
4bquem não dirige sua mente para o crime.
R. É assim a geração dos que procuram o Senhor!
5Sobre este desce a bênção do Senhor *
e a recompensa de seu Deus e Salvador".
6"É assim a geração dos que o procuram, *
e do Deus de Israel buscam a face".
R. É assim a geração dos que procuram o Senhor!
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