Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
18º DOMINGO COMUM - ANO B
Jo 6,24-35
“Eu Sou o Pão da Vida”
Oração do dia
Manifestais, ó Deus, vossa
inesgotável bondade para com os filhos e filhas que vos imploram e se gloriam
de vos ter como criador e guia, restaurando para eles a vossa criação e
conservando-a renovada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
Evangelho (João 6,24-35)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
6,24 E, reparando a multidão que nem
Jesus nem os seus discípulos estavam ali, Jesus entrou nas barcas e foi até
Cafarnaum à sua procura.
25 Encontrando-o na outra margem do lago,
perguntaram-lhe: “Mestre, quando chegaste aqui?”
26 Respondeu-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade vos
digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e
ficastes fartos.
27 Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que
dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará. Pois nele Deus Pai
imprimiu o seu sinal”.
28 Perguntaram-lhe: “Que faremos para praticar as obras
de Deus?”
29 Respondeu-lhes Jesus: “A obra de Deus é esta: que
creiais naquele que ele enviou”.
30 Perguntaram eles: “Que milagre fazes tu, para que o
vejamos e creiamos em ti? Qual é a tua obra?
31 Nossos pais comeram o maná no deserto, segundo o que
está escrito: ‘Deu-lhes de comer o pão vindo do céu’”.
32 Jesus respondeu-lhes: “Em verdade, em verdade vos
digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro
pão do céu;
33 porque o pão de Deus é o pão que desce do céu e dá
vida ao mundo”.
34 Disseram-lhe: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”
35 Jesus replicou: “Eu sou o pão da vida: aquele que vem
a mim não terá fome, e aquele que crê em mim jamais terá sede”.
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
Continuamos uma série de leituras
dominicais a partir do sexto Capítulo de João. Este capítulo é
extraordinariamente denso em conteúdo e muito carregado com a simbologia
judaica da época de Jesus. Hoje o tema central versa sobre Jesus como “O Pão da
Vida”.
No Antigo Testamento, muitas
vezes o termo “pão” é usado como símbolo da Palavra de Deus; por exemplo, Is
55, 10-11; Amós fala de fome, mas não de pão, nem sede de água, mas fome de
escutar a Palavra de Deus em Am 8, 11-12; A Sabedoria convida os simples a
comer do seu pão e beber do sua seu vinho em Pr 9, 5; Sirac (Eclesiástico) fala
da sabedoria que alimenta as pessoas com o pão de compreensão e a água de
sabedoria (Eclo 15, 4). Até o maná no deserto chegou a ser usado como símbolo
da Torá, ou Lei (Dt 8, 2-3). Podemos ligar essas ideias com Cap. 6 de João.
Divisão do Capítulo:
- 1-15: Multiplicação dos pães
- 16, 21: Jesus anda sobre as águas
- 22-24: Situa o discurso
- 25-29: Introdução ao discurso
- 30-40: Discurso
- I parte: 30-34
- II parte: 35-40
- 41-51: Segunda Parte
- 52-58: Terceira Parte
- 50: Aparte
- 60-61: Reação e opção dos discípulos
O início do relato deixa claro
que a multidão reconheceu o poder de Jesus, mas era incapaz de entrar mais
profundamente no sentido dos seus sinais. Lembremos que o Quarto Evangelho não
usa o termo “milagre” para as sete ações principais de Jesus (água transformada
em vinho em 2, 1-12; a cura do filho do funcionário real em 4, 46-54; a cura de
um paralítico na piscina em 5, 1-18; a partilha dos pães em 6, 1-15; o caminhar
sobre as águas em 6, 16-21; a cura do cego de nascença em 9, 1-41, e a
ressurreição de Lázaro em 11, 1-44), mas “sinais”, embora haja ainda edições da
Bíblia que traduzem de maneira errada. Eles buscam as vantagens imediatas que
podem receber de Jesus. Mas, Jesus insiste que a fé nasce da capacidade de
reconhecer as obras d’Ele como sinais que demonstram uma verdade mais profunda
- que Jesus é o alimento que faz viver. Assim, o Filho do Homem vem do céu e os
sinais que Ele opera garantem a sua origem e a sua missão. Jesus quer que
creiam e recebam o que Deus lhes oferece n’Ele.
A turba quer saber de um sinal
para que pudesse “ver” e “crer” em Jesus. Mas, na visão do João, o “ver” real é
conseguir descobrir a realidade completa de quem realiza os sinais, e não parar
só nos sinais externos. No fundo a multidão quer que Jesus confirme as suas
expectativas messiânicas, realizando milagres - e não entendem a profundidade
da mensagem de Jesus, que ultrapassa tais expectativas.
Os próprios judeus começam a
falar da história do maná no deserto. No tempo de Jesus, muitos doutores da Lei
ensinavam que o dom do maná era o maior prodígio do tempo do Êxodo. Jesus
reformula as expectativas apocalípticas da época, que esperavam de novo maná do
céu, insistindo que o verdadeiro pão da vida é dado pelo Pai e não por Moisés;
que o Pai “dá”, não “deu”, e que o pão que o Pai dá é aquele que veio dar a
vida ao mundo. Jesus é realmente o “pão da vida” porque crer n’Ele é participar
da verdadeira vida.
Nesse trecho encontramos Jesus
usando a frase “Eu Sou” - o que soava aos ouvidos dos judeus da época como
referência ao nome de Deus na história do Êxodo “Eu Sou aquele que sou” (Êx 3,
14). Tudo aponta para a verdadeira origem de Jesus, e o fato que a verdadeira
vida só se acha n’Ele.
Hoje, esses versículos nos desafiam para que
ultrapassemos os limites de uma religião superficial, e para que nos
mergulhemos no mistério de Jesus, criando relacionamento cada vez mais profundo
com Ele e assumindo uma vida de verdadeiros discípulos-missionários,
apaixonados por Ele e pelo seu projeto, o projeto d’Aquele que veio para que
“todos tenham a vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Salmo responsorial 77/78
O Senhor deu a comer o pão do céu.
Tudo aquilo que ouvimos e aprendemos,
e transmitiram para nós os nossos pais,
não haveremos de ocultar a nossos filhos,
mas à nova geração nós contaremos:
as grandezas do Senhor e seu poder.
O Senhor deu a comer o pão do céu.
Ordenou, então, às nuvens lá dos céus,
e as comportas das alturas fez abrir;
fez chover-lhes o maná e alimentou-os,
e lhes deu para comer o pão do céu.
O Senhor deu a comer o pão do céu.
O homem se nutriu do pão dos anjos,
e mandou-lhes alimento em abundância.
Conduziu-os para a terra prometida,
para o monte que seu braço conquistou.
O Senhor deu a comer o pão do céu.
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