Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B
Mc 8,27-35
“Se alguém quer me seguir, tome a sua cruz, renuncie a si mesmo e me siga”
Oração do dia
Ó Deus, criador de
todas as coisas, volvei para nós o vosso olhar e, para sentirmos em nós a ação
do vosso amor, fazei que vos sirvamos de todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (Marcos 8,27-35)
Proclamação do
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 8,27 Jesus saiu com os seus discípulos para as
aldeias de Cesaréia de Filipe, e pelo caminho perguntou-lhes: “Quem dizem os
homens que eu sou?”
28 Responderam-lhe os
discípulos: “João Batista; outros, Elias; outros, um dos profetas”.
29 Então perguntou-lhes
Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Respondeu Pedro: “Tu és o Cristo”.
30 E ordenou-lhes
severamente que a ninguém dissessem nada a respeito dele.
31 E começou a
ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem padecesse muito, fosse
rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos escribas, e fosse
morto, mas ressuscitasse depois de três dias.
32 E falava-lhes
abertamente dessas coisas. Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo.
33 Mas, voltando-se
ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: “Afasta-te de mim,
Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens”.
34 Em seguida,
convocando a multidão juntamente com os seus discípulos, disse-lhes: “Se alguém
me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
35 Porque o que quiser
salvar a sua vida, perdê-la-á; mas o que perder a sua vida por amor de mim e do
Evangelho, salvá-la-á”.
Palavra da Salvação.
Comentário
Como evangelho de hoje, temos a história do caminho de Cesaréia de Felipe. Embora de grande importância também em Mateus e Lucas, o relato mais original está no evangelho de Marcos, Cap. 8, o qual se torna o pivô de todo o Evangelho.
A pedagogia do relato é interessante. Primeiro, Jesus faz uma pergunta bastante inócua: “quem dizem os homens que eu sou?” Assim, chovem respostas, pois esta pergunta não compromete - é o “diz que...” Mas a segunda pergunta traz a “facada”: “E vocês, quem dizem que eu sou?” Agora não vêm muitas respostas, pois quem responde em nome pessoal, e não dos outros, se compromete! Somente Pedro se arrisca e proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias”. Aparentemente, Pedro acertou, e realmente, na versão mateana, Jesus confirma a verdade do que proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é importante que continuemos a leitura pelo menos até o v. 35, porque o assunto é mais complicado do que possa parecer.
Jesus logo explica o que quer dizer ser o Messias. Não era ser glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo. Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé, era ser preso, torturado e assassinado, era dar a vida em favor de muitos. Usando o título messiânico “Filho de Deus” - que vem de Daniel 7, 13ss - Jesus confirmou que era o Messias, mas não o Messias que Pedro quis. Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um Messias forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar os seus seguidores, até a Cruz. Por isso, Pedro contesta Jesus, pedindo que nada disso acontecesse. E como recompensa ganha uma das frases mais duras da Bíblia: “Afasta-se de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens” (v. 33). Pedro, cuja proclamação de fé parecia ser tão acertada, é agora chamado de Satanás - o Tentador por excelência! Pedro tinha os títulos certos, mas a prática errada! Usando os nossos termos de hoje, de uma forma um tanto anacrônica, podemos dizer que ele tinha ortodoxia mas não ortopraxis!
E assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa ser seguidor d’Ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me” (v. 34). Ter fé em Jesus não é em primeiro lugar um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática, o seguimento d’Ele na construção do seu projeto, até às últimas consequências.
Hoje, dois mil anos depois, a pergunta de Jesus ressoa forte - a segunda pergunta. Para nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para o Papa ou o Bispo, mas para cada um de nós pessoalmente? No fundo a resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira em que vivemos e nos comprometemos com o projeto de Jesus - Ele que veio para que todos tivessem a vida e a vida plenamente (Jo 10, 10). Cuidemos para que não caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a doutrina e a teoria certas, mas a prática errada!
Salmo 114/115
Andarei
na presença de Deus,
junto a ele na terra
dos vivos.
Eu amor o Senhor,
porque ouve
o grito da minha
oração.
Inclinou para mim seu
ouvido
no dia em que eu o
invoquei.
Andarei
na presença de Deus,
junto a ele na terra
dos vivos.
Prendiam-me a cordas
da morte,
apertavam-me os laços
do abismo;
invadiam-me angústias
e tristeza.
Eu então invoquei o
Senhor:
“Salvai, ó Senhor,
minha vida!”
Andarei
na presença de Deus,
junto a ele na terra
dos vivos.
O Senhor é justiça e
bondade,
nosso Deus é
amor-compaixão.
É o Senhor quem
defende os humildes:
eu estava oprimido, e
salvou-me.
Andarei
na presença de Deus,
junto a ele na terra
dos vivos.
Libertou minha vida
da morte,
enxugou de meus olhos
o pranto
e livrou os meus pés
do tropeço.
Andarei na presença
de Deus,
junto a ele na terra
dos vivos.
Andarei
na presença de Deus,
junto a ele na terra
dos vivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário