sexta-feira, 17 de agosto de 2012

25º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B


Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Mc 9,30-37

Se alguém quer ser o primeiro deve ser o último, aquele que serve a todos


Oração do dia

Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (Marcos 9,30-37)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
9,30 Tendo partido dali, Jesus e seus discípulos atravessaram a Galiléia. Não queria, porém, que ninguém o soubesse.
31 E ensinava os seus discípulos: “O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua morte”.
32 Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de lho perguntar.
33 Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus perguntou-lhes: “De que faláveis pelo caminho?”
34 Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual deles seria o maior.
35 Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos”.
36 E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes:
37 “Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que me enviou”.
Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho


Na estrutura do Marcos, depois da chamada “Crise Galilaica”, manifestada no episódio da Estada de Cesaréia de Felipe, Jesus muda totalmente de tática e estratégia. Ele não anda mais com as multidões, quase não faz mais milagres - dos 19 milagres em Marcos, somente dois acontecem depois do acontecimento de Cesaréia. Em lugar disso, Ele se dedica quase totalmente à formação dos seus discípulos, tentando inculcar neles as atitudes de verdadeiros discípulos, ensinando-os que o Caminho d’Ele é o caminho da Cruz, da entrega, da doação, e não da busca do poder, da glória ou da fama. Marcos faz isso de uma maneira bem planejada. Em três ocasiões, Jesus anuncia a sua futura paixão (8,81; 9,31; 10,33-34). Em cada ocasião os discípulos não compreendem (8,32; 8,34; 10,35-37). E, a partir dessas incompreensões, Jesus torna a dar um ensinamento, aprofundando vários aspectos do verdadeiro seguimento d’Ele (8, 34-38; 9, 35-37; 10, 38-45).

O trecho de hoje trata do segundo desses três acontecimentos. A causa da dificuldade é a tentação do poder. Embora Jesus tenha deixado bem claro, pela segunda vez, que o seguimento d’Ele é uma vida de entrega, até à morte, em favor dos outros, os Doze discutem entre si qual deles era a maior! O poder é tentação permanente em todas as comunidades, não isentando as Igrejas! Podemos até dizer, com certa dose de humor, que a busca de poder está no DNA das pessoas humanas! Talvez mais do que outro motivo, a sede do poder tem sido o que mais tem corrompido nas Igrejas - mais ainda do que a imoralidade ou a ganância financeira. No século dezenove, o estadista e historiador católico inglês Lord Acton falou que “todo poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”. E não há poder mais perigoso do que o religioso, que fala em nome de Deus!
Quantos sofrimentos e males causados por essa sede do poder, disfarçada como mandato de Deus! Desde o fundamentalismo fanático do Talibã no Afeganistão, até a ufania de certos padres - mormente recém ordenados - que se ostentam com roupas finas e carros do ano, e dominam, de uma maneira opressora, religiosas e leigos de muito mais experiência e sabedoria do que eles... a sede do poder e da dominação, sempre em nome de Deus ou de Jesus, continua a distorcer a vida de muitas comunidades religiosas, dentro e fora do Cristianismo. Como escreveu o teólogo dominicano sul-africano Alberto Nolan OP, “Jesus tem sido mais frequentemente honrado e venerado por aquilo que ele não significou, do que por aquilo que ele realmente significou. A suprema ironia é que algumas das coisas, às quais Ele mais fortemente se opôs na sua época, foram ressuscitadas, pregadas e difundidas mais amplamente através do mundo – em seu nome.” O poder-dominação é frequentemente um desses elementos.
Diante da recusa dos seus discípulos em entender o seu ensinamento, Jesus, o Servo de Javé, pega uma criança como símbolo de quem deve segui-Lo. Não porque criança é sempre santa nem inocente! Mas porque é sem-poder, dependente dos adultos de tudo. No tempo de Jesus, criança não tinha direitos, e era entre os últimos da sociedade. Os seus discípulos são convidados a despojar-se do poder para serem servos, da mesma maneira do que o Mestre, Ele que “não se apegou à sua igualdade com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte da cruz” (Fl 2,6-8).
O poder em si é um bem - para ser usado a serviço dos outros! Todos nós - clero, religiosos, leigos - somos vulneráveis diante da tentação do poder. Levemos a sério o ensinamento de hoje, pois só pode ser discípulo de Jesus quem procura ser o servo de todos! Evitemos títulos, privilégios, e comportamentos que tão facilmente poderão nos afastar do seguimento do Senhor. Que o nosso modelo seja sempre Ele - e não os critérios da sociedade vigente, onde é o poder que manda. A nossa força vem da Cruz de Jesus, a fraqueza do Deus “que escolheu o que o mundo despreza, acha vil e sem valor, para destruir o que o mundo pensa que é importante” (1Cor 1,28).

Salmo responsorial 53/54

É o Senhor quem sustenta minha vida!

Por vosso nome, salvai-me, Senhor;
e dai-me a vossa justiça!
Ó meu Deus, atendei minha prece
e escutai as palavras que eu digo!

É o Senhor quem sustenta minha vida!

Pois contra mim orgulhosos se insurgem,
e violentos perseguem-me a vida:
não há lugar para Deus aos seus olhos.
Quem me protege e me ampara é meu Deus;
é o Senhor quem sustenta minha vida!

É o Senhor quem sustenta minha vida!

Quero ofertar-vos o meu sacrifício
de coração e com muita alegria;
quero louvar, ó Senhor, vosso nome,
quero cantar vosso nome que é bom!

É o Senhor quem sustenta minha vida!


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