segunda-feira, 17 de setembro de 2012

28º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B

Mc 10,17-30

Como é difícil entrar no Reino de Deus




  Oração do dia


Ó Deus, sempre nos preceda e acompanhe a vossa graça, para que estejamos sempre atentos ao bem que devemos fazer. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Evangelho (Marcos 10,17-30)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
10,17 Tendo Jesus saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei para alcançar a vida eterna?"
18 Jesus disse-lhe: "Por que me chamas bom? Só Deus é bom.
19 Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe."
20 Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade."
21 Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me.
22 Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens.
23 E, olhando Jesus em derredor, disse a seus discípulos: "Quão dificilmente entrarão no Reino de Deus os ricos!"
24 Os discípulos ficaram assombrados com suas palavras. Mas Jesus replicou: "Filhinhos, quão difícil é entrarem no Reino de Deus os que põem a sua confiança nas riquezas!
25 É mais fácil passar o camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar o rico no Reino de Deus."
26 Eles ainda mais se admiravam, dizendo a si próprios: "Quem pode então salvar-se?"
27 Olhando Jesus para eles, disse: "Aos homens isto é impossível, mas não a Deus; pois a Deus tudo é possível.
28 Pedro começou a dizer-lhe: "Eis que deixamos tudo e te seguimos."
29 Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho
30 que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna.
Palavra da Salvação.

Comentário ao Evangelho

O nosso texto inicia-se com a frase: “Quando Jesus saiu de novo a caminhar”. Mais uma vez, estamos na caminhada com Jesus, na caminhada que é uma aprendizagem para o discipulado, uma caminhada que o leva cada vez mais perto a Jerusalém, lugar da crise definitiva da sua vida. Ao longo dessa caminhada, Jesus luta com a incompreensão dos seus discípulos, até dos mais chegados a Ele, pois a mentalidade deles era formada pela ideologia dominante, e assim tinham a maior dificuldade em apreciar a reviravolta de valores que Jesus e a sua mensagem significavam. Nos domingos anteriores, vimos essa tensão no trato das questões do poder, do divórcio, das crianças. No nosso texto de hoje, Jesus põe em cheque o ensinamento comum sobre a riqueza e a pobreza.
A cena é muito conhecida - um homem pede orientação sobre como entrar na vida eterna. Em um primeiro momento, Jesus coloca diante dele a exigência conhecida por todo judeu piedoso e ensinada pelas escolas rabínicas - o cumprimento dos mandamentos. Mas o homem - sem dúvida um praticante piedoso da Lei - sente que isso não é o suficiente, antes, é o mínimo. Assim, Jesus põe diante dele as exigências do Reino - o seguimento d’Ele, o despojamento dos bens, a partilha e a solidariedade. Isso o homem é incapaz de aceitar. Estava amarrado aos seus bens, pois era muito rico (v. 22). Fez a sua opção - optou por uma vida “regular” que não exigisse partilha nem despojamento, e como consequência foi embora “muito abatido” - pois tinha colocado bens secundários acima do bem maior.
Porém, o centro do relato está no debate entre Jesus e os discípulos d’Ele. O Mestre afirma que “é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus!” (v. 25). Muitas vezes gastamos tanta energia em debater o que significa “o buraco da agulha” (quase sempre tentando diminuir o seu impacto!) e deixamos de lado o aspecto mais importante - a reação dos discípulos! Eles ficaram “muito espantados” quando ouviram isso e se perguntaram “então quem pode ser salvo?”. Por que ficaram espantados? O que houve de espantoso na colocação de Jesus? Aqui está o âmago da questão.
O espanto dos discípulos - também todos judeus praticantes e piedosos - era causado pelo fato de que, na ideologia religiosa vigente, a riqueza era considerada sinal da bênção de Deus, e a pobreza como sinal da maldição (uma ideia presente em certas seitas hoje e que às vezes infiltra certas pregações sobre o dízimo na própria Igreja Católica!). Para eles, quem não iria se salvar era o pobre, pois o rico era abençoado. Aqui é bom lembrar que se trata de “entrar no Reino de Deus”, o que não é sinônimo de salvação eterna. A salvação depende da gratuidade e misericórdia de Deus, e diante de tal mistério só cabe à gente calar-se. Mas, o Reino de Deus deve ser uma experiência já existente entre nós, mesmo que não em plenitude, e que significa experimentar na vida os valores do Reino. O rico dificilmente entra nesta dinâmica porque normalmente é auto-suficiente, atrelado a um sistema classista e injusto, e com grande dificuldade tanto de repartir como de sentir a sua dependência de Deus.
A proposta de Jesus desafia as ideologias que veem a riqueza como sinal da bênção de Deus. A proposta d’Ele não é a riqueza, mas a partilha; não é a acumulação, mas a solidariedade e a justiça, para que todos possam ter o suficiente. O texto deixa claro que quem quer viver esta proposta vai sofrer, pois o mundo não vai aceitá-la. Quem segue Jesus na prática da solidariedade, encontra uma felicidade mais duradoura, mas com perseguição; porém, já vive a certeza da plenitude do Reino que virá (v. 29-31).


Salmo responsorial 89/90

Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor,
e exultaremos de alegria! 

Ensinai-nos a contar os nossos dias
e dai ao nosso coração sabedoria!
Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis?
Tende piedade e compaixão de vossos servos!

Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor,
e exultaremos de alegria! 

Saciai-nos de manhã com vosso amor,
e exultaremos de alegria todo o dia!
Alegrai-nos pelos dias que sofremos,
pelos anos que passamos na desgraça!

Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor,
e exultaremos de alegria! 

Manifestai a vossa obra a vossos servos
e as seus filhos revelai a vossa glória!
Que a bondade do Senhor e nosso Deus
repouse sobre nós e nos conduza!
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho.

Saciai-nos, ó Senhor, com vosso amor,
e exultaremos de alegria! 





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