Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
FESTA DE NOSSO
SENHOR JESUS CRISTO,
REI DO UNIVERSO - ANO B
Jo 18, 33b-37
“Todo aquele que é da
verdade, escuta a minha voz”
Oração do dia
Deus eterno
e todo-poderoso, que dispusestes restaurar todas as coisas no vosso amado
Filho, rei do universo, fazei que todas as criaturas, libertas da escravidão e
servindo à vossa majestade, vos glorifiquem eternamente. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (João 18,33-37)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo: 18 33 Pilatos entrou no
pretório, chamou Jesus e perguntou-lhe: “És tu o rei dos judeus?”
34 Jesus respondeu: “Dizes
isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?”
35 Disse Pilatos: “Acaso
sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim. Que
fizeste?”
36 Respondeu Jesus: “O meu
Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos
certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu
Reino não é deste mundo”.
37 Perguntou-lhe então
Pilatos: “És, portanto, rei?” Respondeu Jesus: “Sim, eu sou rei. É para dar
testemunho da verdade que nasci e vim ao mundo. Todo o que é da verdade ouve a
minha voz”.
Palavra da
Salvação.
Comentário ao Evangelho
Como
é de costume na Igreja Católica, hoje, o último domingo do Ano Litúrgico,
celebra-se a festa litúrgica de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. A
festa foi estabelecida na época dos governos totalitários nazistas, fascistas e
comunistas, nos anos antes da Segunda Guerra, para enfatizar que o único poder
absoluto é de Deus. Nos dias de hoje, em que milhões padecem as consequências
de um novo tipo de totalitarismo disfarçado, o do poder econômico
inescrupuloso, torna-se atual a inspiração original da festa - que Deus é o
único Absoluto. Em um mundo que não é ateu, mas idolátrico, pois presta culto
ao lucro, a festa de hoje nos desafia para que revejamos as nossas atitudes e
ações concretas - para descobrir o que é para nós, na verdade, o valor absoluto
das nossas vidas.
O
texto é tirado da paixão segundo João - o diálogo entre Jesus e Pilatos sobre a
verdadeira identidade de Jesus. Com a ironia que lhe é típico, João faz com que
Pilatos - o representante do poder absoluto da época, o Império Romano - apresenta
Jesus como Rei, o que Ele é na verdade, mas não da maneira que Pilatos possa
entender. O Reino de Jesus é o oposto do Reino do Império Romano - não é opressor,
nem injusto, nem idolátrico, mas o Reino da justiça, fraternidade,
solidariedade e partilha, o Reino do Deus da Vida.
É
exatamente por ter semeado este Reino que Jesus deve morrer - aliás não morrer,
mas ser matado, o que é diferente. Pilatos - como acontece nos outros
Evangelhos também - demonstra isso quando ele deixa claro quem entregou Jesus,
pedindo a sua morte. Não foi o povo, mas, os sumos sacerdotes que o entregaram
(v. 35). É importante entender o que isso significa, pois se Jesus foi matado,
houve algum motivo, e houve alguém que o matasse. Os sumos sacerdotes eram, no
tempo de Jesus, todos nomeados pelos romanos, dentro do partido dos saduceus, o
partido da elite jerosalemita, donos de terras e do comércio, e chefes do
Templo. O Templo funcionava como Banco Central, centro de arrecadação de
impostos, e lugar de câmbio monetário, uma vez que não se aceitava nele a moeda
corrente. Jesus, portanto, foi assassinado pelo poder político, econômico e
religioso, coniventes com o poder imperialista, representado por Pilatos. Pois,
o Reino de Deus se opõe frontalmente com qualquer reino opressor, como era o de
Roma.
A
realidade vivida por Jesus continua hoje. O seguimento de Jesus, na construção
de um Reino de justiça e paz, do shalom de Deus, necessariamente vai entrar em
conflito com os reinos que dependem da exploração e da injustiça. Normalmente,
esses poderes primeiro vão tentar cooptar a Igreja, para que, em lugar de ser
voz profética diante das injustiças, torne-se porta-voz dos valores desses reinos.
Não faltarão incentivos, monetários e outros, para que as Igrejas caiam nesta
cilada. Por isso, como nos advertiram os textos nos últimos domingos, é mister
ficarmos sempre vigilantes, para que verifiquemos se a nossa vida prática está
mais de acordo com o Reino de Deus ou o reino de César.
Para
João, Jesus traz a grande crise da história. Diante da verdade, que é Ele,
todos têm que se posicionar. Ele, como todo profeta, não causa a divisão, mas
desmascara a divisão que existe dentro da sociedade, a divisão entre o bem e o
mal, entre um projeto da morte e um projeto da vida, uma divisão que permeia
todos os elementos da sociedade. Diante d’Ele, não há lugar para meio-termo -
todos têm que optar. Por isso, a nossa festa de hoje, longe de ser algo triunfalista,
nos desafia para que façamos um exame de consciência - tanto individual como
eclesial e comunitário - para verificar se o nosso Rei é realmente Jesus, ou
se, mesmo de uma maneira disfarçada ou inconsciente, continua sendo César!
Salmo 92/93
Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!
Deus é rei e se vestiu de majestade,
revestiu-se de poder e de esplendor!
Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!
Vós firmastes o universo inabalável,
vós firmastes vosso trono desde a origem,
desde sempre, ó Senhor, vós existis!
Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!
Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa
pelos séculos dos séculos, Senhor!
Deus é rei e se vestiu de majestade,
glória ao Senhor!