Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
17º DOMINGO COMUM - ANO B
Jo 6,1-15
“Pegou os pães, agradeceu a
Deus e os distribuiu”
Oração
Ó Deus, sois o amparo dos que em vós
esperam e, sem vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de
amor para conosco, para que, conduzidos por vós, usemos de tal modo os bens que
passam, que possamos abraçar os que não passam. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (João 6,1-15)
Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo João.
6,1 Depois disso,
atravessou Jesus o lago da Galiléia (que é o de Tiberíades.)
2 Seguia-o uma grande
multidão, porque via os milagres que fazia em beneficio dos enfermos.
3 Jesus subiu a um
monte e ali se sentou com seus discípulos.
4 Aproximava-se a
Páscoa, festa dos judeus.
5 Jesus levantou os
olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele e disse a Filipe: Onde
compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?
6 Falava assim para o
experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer.
7 Filipe respondeu-lhe:
Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço.
8 Um dos seus
discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe:
9 Está aqui um menino
que tem cinco pães de cevada e dois peixes... mas que é isto para tanta gente?
10 Disse Jesus: Fazei-os
assentar. Ora, havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se aqueles homens em
número de uns cinco mil.
11 Jesus tomou os pães e
rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e
igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam.
12 Estando eles
saciados, disse aos discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada
se perca.
13 Eles os recolheram e,
dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos.
14 À vista desse milagre
de Jesus, aquela gente dizia: Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao
mundo.
15 Jesus, percebendo que
queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte.
Palavra da Salvação.
Comentário
A liturgia de hoje interrompe as
leituras do Evangelho de Marcos e insere um trecho tirado do capítulo sexto de
João - o que comumente chamamos o milagre da “Multiplicação dos Pães”. Logo,
vale lembrar que este é o único milagre contado pelos quatro evangelhos, tanto
pela tradição sinótica como da Comunidade do Discípulo Amado. Isso mostra
claramente que, para as primeiras comunidades cristãs de diversas tradições, a
história hoje relatada possuía um grande valor e uma mensagem muito importante.
Os quatro relatos seguem basicamente
o mesmo fio da meada, com as divergências próprias a cada tradição e teologia.
O enfoque mais “sacramental” ou “eucarístico” é do João, mostrando mais uma vez
uma das características da comunidade do Discípulo Amado: a de ter uma teologia
eucarística mais desenvolvida.
Embora seja um dos relatos mais
conhecidos dos evangelhos, vale a pena sublinhar um elemento que talvez possa
parecer estranho: embora nós sempre nos refiramos ao milagre da “multiplicação
dos pães”, em nenhum dos quatro relatos usa-se o verbo “multiplicar”! Usam-se
outros termos nos quatro evangelhos: “pegar”, “benzer” “distribuir”,
“partilhar”! Não é o caso de discutir aqui o que foi que Jesus fez! Nem
teríamos condições de descobrir. O enfoque é outro. Se os evangelistas tivessem
colocado a ênfase sobre o “multiplicar”, ou seja, sobre o estritamente
milagroso, então a história não teria grandes conseqüências para nós hoje, pois
nós não temos o poder de fazer milagres! Mas, colocando a ênfase sobre a o
“partilhar” e o “distribuir”, então os evangelistas nos desafiam hoje! Pois,
partilhar e distribuir estão ao nosso alcance!
No Brasil, com tanta gente assolada
pela injustiça e miséria, não precisamos multiplicar nada! O Brasil não precisa
multiplicar terras - somos um dos maiores países do mundo! Nem precisa
multiplicar a renda - somos a oitava ou nona potência econômica do mundo! Não!
O que precisamos é de uma partilha e uma redistribuição das terras e da renda.
O que precisamos é uma mudança de mentalidade, de coração e das estruturas, e
não milagres paliativos. A história de João e dos outros evangelistas insiste
que a solução para a carência se acha na solidariedade, na partilha e na
redistribuição, a partir da nossa fé no Deus da Vida.
Outro elemento importante no relato
joanino do evento é a atuação do menino que tinha cinco pães de cevada e dois
peixinhos - o seu lanche. Mesmo sendo suficiente somente para ele, ele dispõe
dos pães e peixes, através do André. Esse gesto de partilha, abençoado por
Jesus, faz com que todos se fartem! O relato ressalta que foram pães de cevada
- a comida do pobre. Também aqui há uma releitura de um evento na vida do
profeta Eliseu, que também “multiplicou” pães de cevada (2Rs 4, 42-44). Sem a
colaboração deste rapaz simples, oferecendo o pouco que tinha, Jesus não
poderia ter alimentado essas pessoas. Assim, o texto nos desafia para
descobrirmos quais são os “cinco pães de cevada” que cada um tem, e de
colocá-los a serviço da comunidade. Quando todos partilham o pouco que têm,
sobrará! Quando cada um que tem algo segura para si, falta para muitos!
Já mencionamos que João, colocando o relato no capítulo sexto,
onde tem o discurso do Pão da Vida, focaliza o aspecto eucarístico. Participar
da Eucaristia é comprometermo-nos com o mundo de solidariedade e partilha, onde
os bens materiais - mais do que suficientes - serão distribuídos e partilhados,
criando assim, de uma maneira real entre nós, o Reinado de Deus. Como diz um
canto de comunhão, “Comungar é tornar-se um perigo, viemos pra incomodar”. A mensagem
da “multiplicação” dos pães incomoda, e muito, pois aponta para as
consequências da nossa participação na Eucaristia!
Salmo
144/145
Saciai os vossos filhos, ó Senhor!
Que vossas obras, ó Senhor, vos
glorifiquem
e os vossos santos, com louvores, vos
bendigam!
Narrem a glória e o esplendor do vosso
reino
e saibam proclamar vosso poder!
Saciai os vossos filhos, ó Senhor!
Todos os olhos, ó Senhor, em vós
esperam,
e vós lhes dais no tempo certo o
alimento;
vós abris a vossa mão prodigamente
e saciais todo ser vivo com fartura.
Saciai os vossos filhos, ó Senhor!
É justo o Senhor em seus caminhos,
é santo em toda obra que ele faz.
ele está perto da pessoa que o invoca,
de todo aquele que o invoca lealmente.
Saciai os vossos filhos, ó Senhor!