Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
14º DOMINGO COMUM - ANO B
Mc 6,1-6
“Jesus não
pode fazer milagres em Nazaré”
O texto de hoje encerra o segundo
bloco da primeira parte do Evangelho de Marcos - que trata da cegueira dos
familiares de Jesus. O primeiro bloco (1,14-3, 6) mostrou a cegueira das
autoridades, e o próximo bloco mostrará a cegueira dos discípulos. Assim,
Marcos gradativamente aumenta a tensão entre o que Jesus é e a incompreensão
dos que o conhecem: autoridades, familiares e discípulos. Tudo para poder lançar
como questão fundamental do seu Evangelho a pergunta: “E vocês, quem dizem que
eu sou?” (Mc 8, 29).
De uma maneira indireta, Marcos aqui
toca em um dos problemas fundamentais dos cristãos - o escândalo da encarnação.
Frequentemente não temos tanta dificuldade em assumir a realidade da divindade
de Jesus, mas sim, a sua humanidade! Até hoje, quantas hipóteses esdrúxulas
sobre onde Jesus teria passado os primeiros trinta anos da sua vida, quando a
realidade é que Ele os passou como qualquer outro rapaz da sua geração –
em uma família e comunidade do interior, trabalhando com as mãos e
partilhando a dura sorte do seu povo, com uma fé profunda na presença de Javé
no seu meio - uma fé alimentada pelas Escrituras. Mas, frequentemente relutamos
para não enxergar a opção real de Deus pelos marginalizados através da
realidade da encarnação!
Os seus próprios parentes também não
queriam aceitar a pessoa e a missão de Jesus. Marcos não esconde a dureza das
críticas: “Esse homem não é o carpinteiro, o filho de Maria?” (v. 3). Se fosse
um fariseu, ou um “doutor”, ele teria sido aceito! Quanta coisa semelhante hoje
- quando preferimos acreditar nas palavras e retórica dos “doutores” e
desprezamos a sabedoria popular dos que lutam no meio do povo para um mundo mais
justo!
Marcos retoma aqui o tema da primeira
parte do Evangelho - que o caminho para conhecer Jesus não é através de uma
corrida atrás de milagres. Pois, os Nazarenos conheciam bem os milagres de
Jesus: “E esses milagres que são realizados pelas mãos d’Ele?” (v. 2). Aqui
tocamos no cerne da questão: em Marcos, Jesus nunca faz um milagre para
despertar a fé em alguém. Pelo contrário, é a fé das pessoas que causa os
milagres da parte de Jesus. Por isso, é importante notar o verbo que Marcos
usa: “E Jesus não pôde fazer milagres em Nazaré!” (v. 5). Não foi que
não quisesse, nem que não fizesse milagres, mas que Ele não pudesse fazer! Por
quê? Por causa da falta da fé deles!
O texto nos desafia para que nos
questionemos sobre o Jesus em quem acreditamos! Conseguimos vê-Lo nos pequenos
e humildes e nas pequenas ações em favor do Reino? Ou O buscamos em ditos
“milagres” e coisas estrondosas, que muitas vezes podem mascarar uma relutância
em assumir o caminho da Cruz? Marcos quer suscitar uma desconfiança na sua comunidade
- se nem as autoridades e nem os parentes de Jesus o compreenderam, será que
nós O compreendemos? Devagarzinho chegaremos ao Capítulo 8, o pivô de Marcos,
onde seremos convidados a responder a pergunta fundamental da nossa fé: quem é
Jesus para mim, para nós, hoje?
Nenhum comentário:
Postar um comentário