Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
10º DOMINGO COMUM - ANO B
Mc 3, 20-35
“Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”
Oração
do dia
Ó Deus, fonte de todo bem,
atendei ao nosso apelo e fazei-nos, por vossa inspiração, pensar o que é certo
e realizá-lo com vossa ajuda. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo.
Evangelho
(Marcos 3,20-35)
Proclamação
do evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 3,20 Dirigiram-se em seguida
a uma casa. Aí afluiu de novo tanta gente, que nem podiam tomar alimento. 21 Quando os seus o
souberam, saíram para o reter; pois diziam: "Ele está fora de si."
22 Também os escribas, que
haviam descido de Jerusalém, diziam: "Ele está possuído de Beelzebul: é
pelo príncipe dos demônios que ele expele os demônios." 23 Mas, havendo-os
convocado, dizia-lhes em parábolas: "Como pode Satanás expulsar a Satanás?
24 Pois, se um reino
estiver dividido contra si mesmo, não pode durar. 25 E se uma casa está
dividida contra si mesma, tal casa não pode permanecer. 26 E se Satanás se levanta
contra si mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas desaparecerá. 27 Ninguém pode entrar na
casa do homem forte e roubar-lhe os bens, se antes não o prender; e então
saqueará sua casa. 28 "Em verdade vos
digo: todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, mesmo as suas
blasfêmias; 29 mas todo o que tiver
blasfemado contra o Espírito Santo jamais terá perdão, mas será culpado de um
pecado eterno." 30 Jesus falava assim
porque tinham dito: "Ele tem um espírito imundo."
31 Chegaram sua mãe e seus
irmãos e, estando do lado de fora, mandaram chamá-lo. 32 Ora, a multidão estava sentada
ao redor dele; e disseram-lhe: "Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te
procuram." 33 Ele respondeu-lhes:
"Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" 34 E, correndo o olhar
sobre a multidão, que estava sentada ao redor dele, disse: "Eis aqui minha
mãe e meus irmãos. 35 Aquele que faz a vontade
de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe."
Palavra da salvação.
COMENTÁRIO
A
disputa com os escribas também intriga umas pessoas quando fala do “pecado
contra o Espírito Santo” que não tem perdão. Em que consiste? Segunda a nota do
rodapé da Bíblia TEB, “este pecado consiste em negar-se a reconhecer o poder
que atua por meio de Jesus, atribuindo a Satanás as obras que ele realiza pelo
Espírito Santo. Tal recusa à conversão contraria o perdão”. Mas, as palavras
fortes referentes a este pecado não devem tirar a nossa atenção de algo muito
mais importante - que todos os outros pecados, por tão “pesados” que possam
ter, têm perdão. Esse fato é um grande “Evangelho”, ou “Boa Notícia” e deve nos
animar que para que sejamos portadores dessa mensagem de perdão e reconciliação
a todos.
Esta segunda parte do terceiro capítulo de Marcos
nos apresenta uma característica bastante usada neste Evangelho. O autor
intercala uma discussão com os escribas (vv. 22-30) em uma cena em que Jesus se
defronta com a incompreensão da sua família (vv. 20-21. 31-35). Ele usa o mesmo
procedimento em 5, 21-43; 6, 7-33; 11, 11-21 e 14, 1-11. A finalidade é para
que o leitor interprete um evento à luz do outro. Assim, no texto de hoje,
devemos nos perguntar com os versículos que tratam dos familiares de Jesus e o
trecho referente à discussão com os escribas lançam luz um sobre o outro. Na
verdade, em ambos os casos, Jesus é objeto de acusações falsas, e é
incompreendido, ou até rejeitado, pelos seus familiares, bem como pelas
autoridades de Jerusalém.
Não há dúvida que a atividade de Jesus causa
espanto e choque. Trabalhando até a noite em prol dos excluídos e sofridos,
misturando-se com gente considerada impura pela religião oficial, e portanto,
com esta ideia introjetada na visão do povo comum, e criticando fortemente as
lideranças religiosas do seu tempo, Jesus parecia para muitos “louco” ou
possuído por um demônio, ou algo semelhante. Numa cultura onde “honra” e
“vergonha” eram conceitos chaves para qualquer família, os familiares de Jesus
resolveram conter o problema, indo “segurá-lo” e trazê-lo para a casa da
família.
O confronto com a família continua nos vv. 31-35. É
interessante como Marcos constrói a cena. Quando os parentes chegam ao local
onde ele está pregando, eles nem tentam entrar para escutá-lo ou para conversar
com ele. Eles deliberadamente ficam do lado de fora e mandam chamá-lo. Isso
contrasta muito com a cena de dentro - onde uma multidão está sentada ao redor
de Jesus - a atitude de discípulo. Quando é informado da presença dos seus
parentes fora, Jesus olha aos que estão ao redor dele e faz uma declaração
espantosa e contundente: “Aqui está minha mãe e meus irmãos!” O texto logo
explica o sentido dessa afirmação: “quem faz a vontade de Deus, esse é meu
irmão, minha irmã e minha mãe!” Na verdade, Jesus não está denegrindo a sua
família, mas insistindo nas novas relações que nascem do discipulado d’Ele.
Parentesco não traz privilégio nenhum - o importante é ser discípulo e cumprir
a vontade de Deus. Assim Jesus afirma que na medida em que nós nos tornamos discípulos/as,
teremos a mesma dignidade que a sua mãe e parentes. Tudo se relativiza diante
das exigências do Reino e do seguimento!
Embora não seja uma questão de grande importância,
talvez umas palavras sobre o sentido da frase “irmãos e irmãs de Jesus”. É bom
lembrar que na tradição do Oriente Médio, não se define a família como o
pequeno núcleo de pai, mãe e filhos, mas inclui parentes próximos e distantes.
A versão grega do Antigo Testamento usa a palavra: “adelfos” (irmão) nos dois
sentidos, restrito e amplo (Gn 29, 12 e 24, 48). Podemos dizer que na tradição
cristã, existem três tipos de interpretação para esta questão. Primeiro,
entende-se o termo “irmão” no sentido do uso oriental. Segundo, usando um
documento apócrifo (não canônico) do século IV chamado Proto-Evangelho de
Tiago, se diz que a Maria casou com um viúvo idoso, José que já tinha seis
filhos/as: Judas, Tiago, Joset, Simão, Lídia, Lísia. Assim, os “irmãos” seriam
só da parte de José e não da Maria. Terceiro, seguindo São Jerônimo, se diz que
são primos de Jesus em primeiro grau. O importante é saber que a concepção
virginal de Jesus está claramente ensinada na Bíblia e faz parte do Credo
Apostólico. Mas, a questão da virgindade perpétua de Maria não é tocada nos
Evangelhos, e não adianta buscar argumentos neles em favor ou contra. Essa
doutrina faz parte da fé católica desde os primórdios.
Salmo - Sl 129,1-2.3-4ab.4c-6.7-8 (R. 7)
R.
No Senhor toda graça e redenção!
1Das profundezas eu clamo a
vós, Senhor,*
2escutai a minha voz!
Vossos
ouvidos estejam bem atentos*
ao clamor da minha prece!
R.
No Senhor toda graça e redenção!
3Se levardes em conta nossas
faltas,*
quem haverá de subsistir?
4Mas em vós se encontra o
perdão,*
eu vos temo e em vós espero.
R.
No Senhor toda graça e redenção!
5No Senhor ponho a minha
esperança,*
espero em sua palavra.
6A minh'alma espera no
Senhor*
mais que o vigia pela aurora.
R.
No Senhor toda graça e redenção!
7Espere Israel pelo Senhor,*
pois no Senhor se encontra toda graça e
copiosa redenção.
8Ele vem libertar a Israel*
de toda a sua culpa.
R.
No Senhor toda graça e redenção!
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