Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE - ANO B
Mt 28, 16-20
“Vão e façam que todos os povos se tornem meus
discípulos”
Hoje celebramos o mistério insondável de Deus, a
Santíssima Trindade. Durante os primeiros séculos da sua existência, a Igreja
lutou com dificuldade para expressar em palavras o inexprimível - a natureza do
Deus em que acreditamos. Chegou à expressão profunda do Credo
Niceno-Constantinopolitano onde celebra o Pai “Criador de todas as coisas”, o
Filho “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado,
não criado, consubstancial com o Pai’, e o Espírito que “dá a vida, e procede
do Pai e do Filho”. Mas, mesmo essas expressões tão profundas não conseguem
explicar a Trindade, pois se Deus fosse compreensível à mente humana, não seria
Deus!
Dentro
das limitações da linguagem humana, tentamos expressar o mistério da Trindade
como “três pessoas numa única natureza”. Mas, mais importante do que encontrar
fórmulas filosóficas ou teológicas abstratas para expressar o que no fundo não
é possível definir, é descobrir o que a doutrina da Trindade pode nos ensinar
para a nossa vida cristã. Talvez, o livro de Gênesis possa nos ajudar. Lá se
diz que Deus “criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os
criou homem e mulher” (Gn 1, 28). Se fomos criados na imagem e semelhança de
Deus, é de um Deus que é Trindade, que é comunidade, unidade perfeita na
diversidade. Assim só podemos ser pessoas realizadas na medida em que vivemos
comunitariamente. Quem vive só para si está destinado à frustração e
infelicidade, pois está negando a sua própria natureza. O egoísmo é a negação
de quem somos, pois nos fecha sobre nós mesmos, enquanto fomos criados na
imagem de um Deus que é o contrário do individualismo, pois é Trinitário. No
mundo pós-moderno, onde o individualismo social, econômico e religioso é tido
como critério fundamental da vida, a Doutrina da Trindade nos desafia para que
vivamos a nossa vocação comunitária, criando uma sociedade de partilha,
solidariedade e justiça, no respeito do diferente do outro, pois fomos criados
na imagem e semelhança deste Deus que é amor e comunhão. O texto evangélico nos
faz lembrar que somos continuadores da missão da Trindade encarnada em Jesus de
Nazaré - a de testemunhar o Reino de Deus, vivendo em comunidade o projeto de
Jesus, o missionário do Pai, que nos congregou na Igreja pela ação do Espírito
Santo. Na medida em que criarmos comunidades alternativas de solidariedade,
fraternidade, justiça e paz, estaremos vivendo na imagem e semelhança do Deus
Uno e Trino, comunidade e comunhão perfeita, que nos convida a participar da
sua própria vida. A festa de hoje não é de um mistério matemático - como se
fosse possível explicar “três em um” - mas do mistério do amor de Deus, que nos
criou para que vivêssemos comunitariamente na sua imagem e semelhança. É,
portanto, ao mesmo tempo celebração e desafio, para que tornemos cada vez mais
concreto o projeto de Deus para toda a humanidade, no caminho do discipulado de
Jesus.
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir