Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
11º DOMINGO COMUM - ANO B
Mc 4, 26-34
“Com que coisa podemos comparar o Reino de
Deus?”
O texto de hoje traz à tona dois elementos muito
importantes para o estudo dos Evangelhos - “o Reino de Deus” e “as parábolas”.
Antes de olhar o texto mais de perto, convém comentar algo sobre esses dois
termos ou conceitos.
Existe um consenso entre os estudiosos modernos,
sejam católicos ou protestantes, que existem dois termos nos textos evangélicos
que provém do próprio Jesus e que não dependem da reflexão posterior das
comunidades, ou seja, “Reino” e Abbá”. Estamos tão acostumados de ter Jesus
como “objeto” da pregação que esquecemos que Ele não pregou a si mesmo, mas o
“Reino de Deus” (geralmente citado em Mateus como o Reino dos Céus, para evitar
o uso do nome de Deus). Toda a vida de Jesus foi dedicada ao serviço desse
Reino, que Ele nunca define, pois é uma realidade dinâmica, mas que Ele
descreve por comparações, usando parábolas. “Parábola” é um tipo de comparação,
usando símbolos e imagens conhecidos na vida dos ouvintes, e que os leva a
tirar as suas próprias conclusões (de fato, várias vezes temos a explicação de
uma parábola nos evangelhos, mas, essa nasceu da catequese da comunidade e não
teria feito parte da parábola original). O Capítulo 13 de Mateus talvez seja o
melhor exemplo do uso de parábolas para clarificar a natureza do Reino - ou
Reinado - de Deus.
No tempo de Jesus e das primeiras comunidades
cristãs, os diversos grupos religiosos judaicos esperavam a chegada do Reino de
Deus e achavam que poderiam apressar a sua chegada - os fariseus através da
observância da Lei, os essênios através da pureza ritual, os zelotas, através
de uma revolta armada. O texto de hoje nos adverte que não é nem possível, nem
preciso, tentar apressar a chegada ou o crescimento do Reino de Deus, pois ele
possui uma dinâmica interna de crescimento própria. Como a semente semeada cresce,
independente do semeador e sem que ele saiba como, assim o Reino cresce onde
plantado, pois também tem a sua própria força interna que, passo por passo, vai
levá-lo à maturidade. Assim, o texto nos ensina o que Paulo vai ensinar de uma
maneira diferente aos coríntios, quando, referindo-se ao trabalho de
evangelização desenvolvido por ele, Apolo e outros/as missionários/as; ele
afirma “Paulo planta, Apolo rega, mas é Deus que faz crescer” (1Cor 3, 6).
Uma
das imagens que Jesus usa para caracterizar o Reino é a do grão de mostarda.
Embora a semente seja minúscula, ela cresce até se tornar um arbusto frondoso.
Assim Jesus quer que a gente relembre que é importante começar com ações
pequenas e singelas, pois, pela ação do Espírito Santo, elas poderão dar frutos
grandes. Esta parábola é um lembrete para que não caiamos na tentação de olhar
as coisas com os olhos da sociedade dominante, que valoriza muito a
prepotência, o poder, a aparência externa. A nossa vocação é plantar e regar,
nunca perdendo uma oportunidade de semear o Reinado de Deus - ou seja, criar
situações onde realmente reine o projeto do Pai, projeto de solidariedade e
amor, partilha e justiça, começando com sementes minúsculas, para que, não
através do nosso esforço, mas da graça de Deus, eventualmente cresça uma árvore
frondosa que abriga muitos. O desafio do texto é de que valorizemos o gesto
pequeno, as duas moedas da viúva, a semente de mostarda, não nos preocupando
com os resultados, mas, confiantes no poder transformador da semente, plantar e
regar, para que Deus possa ter a colheita!
Nenhum comentário:
Postar um comentário