Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B
Mc 1,40-45
“E de toda parte, as pessoas
iam procurá-lo”
Oração
Ó Deus, que
promestestes permanecer nos corações sinceros e retos, dai-nos, por vossa
graça, viver de tal modo, que possais habitar em nós. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (Marcos 1,40-45)
Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo Marcos.
1,40 Aproximou-se de Jesus um leproso, suplicando-lhe de joelhos: "Se
queres, podes limpar-me."
41 Jesus compadeceu-se
dele, estendeu a mão, tocou-o e lhe disse: "Eu quero, sê curado."
42 E imediatamente
desapareceu dele a lepra e foi purificado.
43 Jesus o despediu
imediatamente com esta severa admoestação:
44 "Vê que não o
digas a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e apresenta, pela tua
purificação, a oferenda prescrita por Moisés para lhe servir de
testemunho."
45 Este homem, porém,
logo que se foi, começou a propagar e divulgar o acontecido, de modo que Jesus não
podia entrar publicamente numa cidade. Conservava-se fora, nos lugares
despovoados; e de toda parte vinham ter com ele.
Palavra da Salvação.
Comentário
O primeiro capítulo de Marcos termina com um trecho que pode esclarecer
o quê significava para Jesus “ir adiante e pregar a Boa-Nova” (Mc 1, 38s). Marcos,
diferente dos outros evangelistas, raramente nos conta o conteúdo da pregação
de Jesus. Mas, ele ilustra esse ensinamento, relatando ações de Jesus que
demonstravam o sentido da chegada do Reino e da sua Boa Notícia.
O texto de hoje conta a cura de um leproso. Os leprosos eram entre os
mais marginalizados da época (mesmo que agora a medicina saiba que a doença de
Hansen como tal não existia na Palestina do tempo de Jesus, e que essas pessoas
sofreram de diversas doenças da pele e não da Hanseníase, propriamente dita!). Eram
obrigados a viver fora da cidade ou aldeia, longe do convívio social, por
motivos higiênicos e religiosos (Lv 13, 45-46). A única esperança do leproso de
ser reintegrado na comunidade estava através de uma cura por parte de Jesus. Ele
diz algo significativo “se queres, tu tens o poder de me curar”. Pois, em
Marcos, Jesus nunca faz milagre para despertar a fé - pelo contrário só faz milagre
onde a fé já existe. O milagre em Marcos nunca causa a fé, mas é a fé que causa
o milagre. Isso se torna importante: recordar no nosso mundo tão entusiasto em
correr atrás de supostos milagres e milagreiros, e pouco adepto a aprofundar a
fé em Jesus no seguimento d’Ele até a cruz. O Evangelho de Marcos tem pouco
lugar para a religião “light”, tão em voga hoje em diversos segmentos das Igrejas
cristãs.
A reação de Jesus é interessante: “Jesus ficou cheio de ira” -
certamente não com o leproso, mas com o sistema social e religioso que
marginalizava uma pessoa humana em nome de Deus. As leis de pureza, inventadas
pelos homens e atribuídas a Deus, tinham o efeito de excluir muitas pessoas da
convivência humana e religiosa. O Evangelho nos desafia para que tenhamos a
coragem de examinar as nossas leis e práticas para verificar se nós também não
criamos classes de excluídos e cristãos da segunda categoria, em nome de Deus!
Depois da cura do leproso, encontramos um elemento característico do
Evangelho de Marcos - o chamado “segredo messiânico”. Jesus proíbe que ele
conte para os outros a história da cura! Que esperança! O homem sentiu
necessidade de espalhar a boa-notícia da sua cura - naturalmente. Essa
proibição vai aparecer muitas vezes em Marcos - e no relato da confissão de
Pedro na estrada de Cesaréia de Filipe vamos ver o motivo atrás dele. Pois
Jesus não quer que o povo siga-O, buscando prodígios e milagres, mas quer que
todos se tornem os seus discípulos como o Servo de Javé, pegando a sua cruz na
luta por um mundo melhor, a concretização do Reino de Deus. Por isso, é de
desconfiar de pregações e celebrações religiosas que se limitam a experiências
intimistas de Deus sem um engajamento na transformação do mundo e das suas
estruturas.
Finalmente, o homem deve
apresentar-se aos sacerdotes para que a sua cura seja autenticada, segundo as
leis levíticas. Pois para Jesus, não basta a cura individual - Ele quer que
todas as pessoas sejam integradas em uma vivência comunitária sem
marginalização por causa de gênero, classe social, raça, cor ou saúde! A fé em
Jesus leva a um mundo totalmente diferente do mundo de exclusão que é a nossa
atual sociedade neo-liberal e consumista! E diante dessa boa-nova de inclusão,
o povo excluído corre atrás de Jesus, pois Ele manifesta a verdadeira face de
Deus a eles, o Deus de bondade e perdão, cujo rosto tinha sido escondido pelas
leis de puro e impuro do Templo e do sistema sacerdotal e farisaica da época -
“e de toda parte as pessoas iam procurá-lo”.
Salmo
31/32
Sois, Senhor, para mim, alegria e
refúgio.
Feliz o homem que foi perdoado
e cuja falta já foi encoberta!
Feliz o homem a quem o Senhor
não olha mais como sendo culpado
e em cuja alma não há falsidade!
Sois, Senhor, para mim, alegria e
refúgio.
Eu confessei, afinal, meu pecado
e minha falta vos fiz conhecer.
Disse: “Eu irei confessar meu pecado!”
E perdoastes, Senhor, minha falta.
Sois, Senhor, para mim, alegria e
refúgio.
Regozijai-vos, ó justos, em Deus,
e no Senhor exultai de alegria!
Corações retos, cantai jubilosos!
Sois, Senhor, para mim, alegria e
refúgio.
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