Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO B
Jo 1,35-42
“O que é que vocês estão
procurando?”
Oração
do dia
Deus eterno e todo-poderoso, que
governais o céu e a terra, escutai com bondade as preces do vosso povo e dai ao
nosso tempo a vossa paz. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
Evangelho (João 1,35-42)
Proclamação do Evangelho de Jesus
Cristo segundo João.
1,35 No dia seguinte,
estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos.
36 E, avistando Jesus
que ia passando, disse: “Eis o Cordeiro de Deus”.
37 Os dois discípulos
ouviram-no falar e seguiram Jesus.
38 Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: “Que
procurais?” Disseram-lhe: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?”
39 Vinde e vede,
respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era
cerca da hora décima.
40 André, irmão de
Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido.
41 Foi ele então logo à
procura de seu irmão e disse-lhe: “Achamos o Messias (que quer dizer o
Cristo)”.
42 Levou-o a Jesus, e
Jesus, fixando nele o olhar, disse: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado
Cefas (que quer dizer pedra)”.
Palavra da Salvação.
Comentário
O autor do Quarto Evangelho organizou o material dos versículos de 1,19-2,12 num esquema de sete dias, culminando com o primeiro sinal de Jesus - as
bodas de Caná - que teve como consequência que “os seus discípulos creram n’Ele”
(2,11). Assim fez lembrar os sete dias da criação, pois com e em Jesus
acontece a nova criação.
Mas, Jesus não quis agir sozinho - e desde o início chamou para si um
grupo de seguidores. Embora seja mais conhecido o relato dos Sinóticos, que
descreve o chamado dos primeiros discípulos à beira do mar de Galiléia (Mc 1,16-20), talvez o relato do Quarto Evangelho guarde uma tradição mais histórica
- que os primeiros discípulos de Jesus eram seguidores de João, o Batista.
O texto de hoje relata a vocação dos primeiros três discípulos - André,
um discípulo anônimo (o Discípulo Amado?) e Simão Pedro. O chamado dos
primeiros discípulos nos apresenta um retrato de vocação, válido para todos os
tempos e todas as pessoas. A primeira pergunta que Jesus fez é fundamental - “o
que é que vocês procuram?” São as primeiras palavras de Jesus no Evangelho de
João. Uma pergunta muito importante para todos nós hoje - o que é que nós
procuramos na vida? O que é o mais importante para nós? Onde procuramos a nossa
felicidade e realização? Não é uma pergunta meramente teórica - é a base da
nossa vivência. Essa pergunta nos interroga, como interrogou os primeiros
discípulos, sobre a busca que dá sentido à nossa vida.
A resposta dos dois: “Mestre, onde moras?”, mostra que eles queriam
criar comunhão com Jesus - e Ele lhes lança um desafio com o convite - “Venham
e vejam”! Em João, “ver” tem o sentido de “crer” (Jo 6,40). Não se trata
simplesmente de conhecer o endereço d’Ele, mas algo muito mais profundo -
descobrir quem é Jesus, descobrir que Ele veio do Pai e volta para o Pai. Ambos
escolhem unir as suas vidas e os seus destinos a Jesus, pois “ficaram com Ele”.
Não é possível ser discípulo de Jesus sem que demos tempo para ficarmos com Ele
- na oração, na reflexão, na leitura da sua palavra.
Mas, para que sejamos discípulos/as não basta conhecer Jesus de uma
maneira intimista e individualista. Logo André procura partilhar a sua
descoberta, fazendo com que o seu próprio irmão chegue a conhecer Jesus. Hoje
também é fundamental que os cristãos testemunhem Jesus, para que outros possam
crer n’Ele - e esse testemunho é dado muito mais pela nossa maneira de viver e
agir do que com as nossas palavras.
O terceiro discípulo do texto é Simão, que ganha o novo nome de “Pedro”
- mudar o nome de uma pessoa na Bíblia muitas vezes significa uma nova
identidade, uma nova vocação (Abrão, Jacó, Sarai etc). Pedro vai dar muitas
cabeçadas antes de descobrir a sua verdadeira identidade. Aliás, só a encontra
no fim do Evangelho em Capítulo 21 quando confessa o seu amor incondicional
para Jesus e pela comunidade, e ouve o convite definitivo do Mestre “Siga-me”. Pedro
simboliza a experiência de todo discípulo - o seguimento de Jesus é uma
caminhada de uma vida toda, com muitos erros e desvios. Mas, o amor incondicional
de Deus é capaz de vencer todas as fraquezas e pecados.
Ser discípulo é um aprendizado permanente - e para que façamos essa
caminhada, é necessário que sigamos os passos dos primeiros discípulos - que
saibamos com clareza o que procuramos na vida, que busquemos criar comunhão com
Jesus e com a sua comunidade, e que gastemos tempo com Ele. Assim teremos a
alegria imensa de fazer a grande descoberta da vida, e, como os discípulos,
chegarmos a realmente “crer n’Ele” - não de uma maneira teórica e difusa, mas
através de uma experiência real do Deus da vida, encarnado em Jesus de Nazaré.
Salmo
39/40
Eu disse: “Eis que venho, Senhor!”
Com prazer faço a vossa vontade.
Esperando, esperei no Senhor
e, inclinando-se, ouviu meu clamor.
Canto novo ele pôs em meus lábios,
um poema em louvor ao Senhor.
Eu disse: “Eis que venho, Senhor!”
Com prazer faço a vossa vontade.
Sacrifício e oblação não quisestes,
mas abristes, Senhor, meus ouvidos;
não pedistes ofertas nem vítimas,
holocaustos por nossos pecados.
Eu disse: “Eis que venho, Senhor!”
Com prazer faço a vossa vontade.
E então eu vos disse: “Eis que venho!”
Sobre mim está escrito no livro:
“Com prazer faço a vossa vontade,
guardo em meu coração vossa lei!”
Eu disse: “Eis que venho, Senhor!”
Com prazer faço a vossa vontade.
Boas novas de vossa justiça
anunciei numa grande assembléia;
vós sabeis: não fechei os meus lábios!
Eu disse: “Eis que venho, Senhor!”
Com prazer faço a vossa vontade.
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