segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

NATAL: MISSA DA NOITE - 24 dezembro

Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

NATAL: MISSA DA NOITE - 24 dezembro

Lc 2,1-20


 
Esta passagem é típica do estilo de Lucas, e contém muito material peculiar a ele. Ele toma as tradições de que Maria e José eram de Nazaré e que Jesus nasceu em Belém, liga-as com as figuras de Augusto, Herodes o Grande e o Governador Quirino, e através destas figuras tece um texto que une oito dos seus temas favoritos: “comida”, “graça”, “alegria”, “pequenez”, “paz”, “salvação”, “hoje”, e “universalismo”. Lucas é um verdadeiro artista das palavras evangélicas!
Este trecho pode ser subdivido assim:
1) O contexto histórico e o nascimento de Jesus - 2, 1-7
2) Pronunciamentos angélicos explicando o sentido de Jesus - 2, 8-14
3) Respostas aos pronunciamentos dos anjos - 2, 15-20
A chave para a compreensão do texto se acha nos versículos 11-14. Aqui Lucas apresenta Jesus como o Messias davídico que trará o dom escatológico de paz, o Shalom de Deus. Assim ele faz contraste com a figura de César Augusto. Na impotência da sua infância, Jesus é o Salvador que traz a verdadeira paz, em contraste com o poderoso Augusto, que era celebrado no culto oficial imperial como o fundador de um reino de paz, a “Pax Romana”. O “Shalom” é na verdade o contrário da “Pax Romana,” como hoje seria o oposto da pretensa “paz” imposta pelos canhões e bombardeiros da força militar prepotente - a “Pax Americana!”. Esta revelação da parte dos anjos é recebida e aceita pelos humildes pastores, e meditada por Maria, modelo de fé, e os discípulos, que terão que meditar e aprofundar o sentido de Jesus para eles, sem cessar!
Desde a Idade Média, o presépio tem mantido o seu lugar como um dos símbolos mais caros aos cristãos. Porém, é bom não deixar que a cena do nascimento de Jesus se torne uma cena somente sentimental, com lembranças saudosas da nossa infância! O relato quer sublinhar a opção de Deus que se encarnou como pobre, sem as mínimas condições para um parto digno. Em nossos presépios, até os bois e o asno tomaram banho! A realidade de nascer em uma gruta ou estrebaria era diferente! Jesus nasce em condições semelhantes a milhões de pobres e excluídos pelo mundo afora, nos dias de hoje! É mais uma manifestação da fraqueza de Deus, que é mais forte do que os homens! (1Cor 1, 25).
Diferente de Mateus - que tem outros interesses teológicos - os protagonistas desta cena são os pastores. Na época, eles eram considerados pessoas desqualificadas, marginais, sujos, ritualmente impuros. Mas é para essa gente que os anjos revelam o sentido do acontecido e são eles os primeiros a encontrar Jesus recém-nascido. Assim, em Lucas, são pessoas à margem da sociedade que testemunham o nascimento de Jesus, e igualmente são pessoas desqualificadas que são as testemunhas da Ressurreição - as mulheres! Lucas não perde uma oportunidade para destacar a opção preferencial de Deus pelos pobres e humilhados!
O trecho continua com mais três ênfases tipicamente lucanas - “não ter medo”, “sentir e expressar alegria” e o termo “hoje”. Os ouvintes poderão ter coragem e alegria, porque a salvação de Deus irrompe no mundo “hoje” - não em data futura distante. Esta ideia volta diversas vezes - na sinagoga, depois de fazer a leitura de Isaías, Jesus dirá que “hoje cumpriu-se essa passagem” (4, 21); ao condenado na cruz, Jesus garante que “hoje estará comigo no paraíso” ( 23, 43). O reino da salvação está sendo inaugurado, e por Jesus, na fraqueza da exclusão social, e não por César, com toda a pompa da corte e das armas! Em uma manjedoura, e não em um palácio imperial! Por parte de quem carece de força e prestígio, e não pelos poderosos e fortes do mundo!
Os pastores não somente testemunham a presença do recém-nascido em Belém, mas anunciam o que disseram os anjos (v. 17). Essa Boa-Notícia complementa o que foi já anunciado à Maria em 1, 31-33, por Maria em 1, 46-45, e por Zacarias em 1, 68-79. É muito significante o termo que Lucas emprega para descrever a reação de Maria:
“Maria, porém, conservava todos esses fatos, e meditava sobre eles em seu coração” (v. 19)
Aqui Lucas retrata, através de Maria, a atitude do/a discípulo/a diante dos mistérios de Deus, revelados em Jesus - Maria não capta o significado pleno dos eventos e os rumina no seu íntimo. A ideia volta de novo em Lc 2, 51:
“Sua mãe conservava no coração todas essas coisas”.
É uma maneira de apontar para a caminhada de fé que Maria trilhou - e que todos nós, que não captamos o sentido pleno da ação de Deus em nossas vidas, teremos que andar.
O texto encerra afirmando que os pobres e marginalizados - personificados nos pastores: “voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que haviam visto e ouvido” (v. 20). Qualquer celebração de Natal que não dê para os sofridos motivo para alegria, coragem e louvor a Deus, pode ser tudo, menos uma celebração cristã!


 

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