Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUINTO DOMINGO DA QUARESMA - ANO B
Jo 12,20-33
“Se alguém quer servir a
mim, que me siga!”
Oração do dia
Senhor nosso Deus, dai-nos, por
vossa graça, caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a
entregar-se à morte no seu amor pelo mundo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (João 12,20-33)
Proclamação
do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, 12,20 havia alguns gregos entre
os que subiram para adorar durante a festa. 21 Estes se aproximaram de
Filipe (aquele de Betsaida da Galileia) e rogaram-lhe: “Senhor, quiséramos ver
Jesus”. 22 Filipe foi e falou com
André. Então André e Filipe o disseram ao Senhor. 23 Respondeu-lhes Jesus: “É chegada a hora para o Filho do Homem ser
glorificado. 24 Em verdade, em verdade
vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer,
produz muito fruto. 25 Quem ama a sua vida,
perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida
eterna. 26 Se alguém me quer
servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém
me serve, meu Pai o honrará. 27 Presentemente, a minha
alma está perturbada. Mas que direi? Pai, salva-me desta hora. Mas é exatamente
para isso que vim a esta hora. 28 Pai, glorifica o teu
nome!” Nisto veio do céu uma voz: “Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo”.
29 Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isso, dizia ter havido
um trovão. Outros replicavam: Um anjo falou-lhe. 30 Jesus disse: “Essa voz não veio por mim, mas sim por vossa causa.
31 Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe
deste mundo. 32 E quando eu for
levantado da terra, atrairei todos os homens a mim”. 33 Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer.
Palavra
da Salvação.
Comentário ao
Evangelho
O texto de hoje traz muitos elementos que têm eco nos textos sinóticos.
Até uma leitura rápida vai trazer lembranças dos seus textos sobre o seguimento
de Jesus, p. ex. Lc 9, 22-25: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz cada dia e me siga”, entre outros. João faz uma redação
conforme a sua teologia e enfatiza que o seguimento de Jesus se dá no serviço a
Ele, ou seja, na luta em favor do seu projeto. Todo o Evangelho de João
manifesta que o serviço a Jesus se dá no serviço aos irmãos e irmãs. Não é
possível servir Jesus sem se colocar ao serviço dos outros, especialmente dos
mais sofridos. Pois, o projeto de Jesus de fidelidade ao Pai vai lhe custar a
vida - Ele será como “o grão do trigo que, se não cai na terra e não morre,
fica sozinho; mas, se morrer, produz muito fruto” (v. 24). Não que Jesus quisesse
a morte e o sofrimento, mas são inerentes no seguimento do projeto do Pai - e
apesar das aparências, não levam à derrota, mas à vitória. Jesus não veio para
ser triunfalista, mas para dar a vida em favor de muitos.
Essa visão que Jesus tinha
da missão do Messias não era a comum - em geral as pessoas daquele tempo
esperavam um messias triunfante, glorioso e guerreiro. A Bíblia nos conta que
Deus criou o homem e a mulher na sua imagem e semelhança; mas, na verdade, nós
muitas vezes criamos Deus em nossa imagem e semelhança, para que Ele não nos
incomode. A nossa tendência é de querer vencer e nos impor, de seguir um
messias triunfante, e não o Servo Sofredor. Mas, para Jesus, não há meio-termo.
O discípulo tem que andar nas pegadas do seu mestre: “Se alguém quer servir a
mim, que me siga” (v. 26).
O seguimento de Jesus leva à
cruz; pois, a vivência das atitudes e opções d’Ele vai nos colocar em conflito
com os poderes contrários ao Evangelho. Mas é importante compreender o sentido
de “carregar a cruz”. Não é aguentar qualquer sofrimento. Se fosse assim, a
religião seria masoquismo! Carregar a cruz é viver as consequências de uma vida
coerente com o projeto do Pai, manifestado em Jesus. Segui-Lo não é tanto fazer
o que Jesus fazia na sua época e situação social e cultural, mas o que Ele
faria se estivesse aqui hoje, diante dos desafios da nossa sociedade,
convivência e situação concreta. Isso o levou a ser assassinado, não pelo povo,
mas por grupos de interesse bem claros, “os anciãos, os chefes dos sacerdotes e
os doutores da Lei”, (a elite dominante em termos econômicos, religiosos e
ideológicos), e, do mesmo jeito, os seus seguidores entrarão em conflito com os
grupos que hoje representam os mesmos interesses dos oponentes de Jesus, sejam
eles sócio-políticos, econômicos ou religiosos - normalmente tudo vem misturado!
Por isso, sempre haverá a tentação de criarmos um Jesus “light”, sem grandes
exigências, limitado a uma religião intimista e individualista, sem
consequências sociais, políticas, econômicas ou ideológicas. Seria cair na
tentação de Pedro, conforme o relato Sinótico, quando rejeitava o seguimento de
um Messias Sofredor (Mc 8, 32).
Mas, que Jesus queremos
seguir? A resposta se dará não tanto com os lábios, mas com as mãos e os pés.
Respondemos quem é Jesus para nós, pela nossa maneira de viver, pelas nossas
opções concretas, pela nossa maneira de ler os acontecimentos da vida e da
história. Tenhamos cuidado com qualquer Jesus que não seja exigente, que não
traz consequências sociais, que não nos engaja na luta por uma sociedade mais
justa.
Fiquei triste há pouco
tempo ao ouvir uma senhora que tinha deixado a Igreja Católica para aderir a
uma Igreja da Teologia de Prosperidade, na verdade uma empresa multi-nacional,
exclamar “agora achei o Jesus que eu queria”. Sem dúvida, o Jesus que ela
queria, mas não o Jesus real! Pois o Jesus real, Jesus de Nazaré, o Jesus do
Evangelho, não foi assim, e deixou bem claro: “Quem tem apego à sua vida vai
perdê-la; quem despreza a sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida
eterna” (v. 25). É claro que aqui se usa um semitismo - o contraste com o
“apegar-se” é expresso no verbo “desprezar”- o que significa “amar menos”. Essa
opção é difícil - embora João não relate a agonia no Horto, ele expressa a
mesma realidade quando Jesus diz “estou perturbado” (v. 27). Mas, o Pai lhe deu
força, como dará a quem faz a opção real pelo Reino, no seguimento de Jesus, no
serviço aos irmãos e irmãs, na construção de uma sociedade, Igreja e comunidade
sem exclusões, onde todos tenham a possibilidade de ter a dignidade e vida
plena dos filhos e filhas de Deus e de cidadãos da sociedade.
Salmo responsorial 50/51
Criai em mim um coração que seja puro.
Tende
piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na
imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me
todo inteiro do pecado
e
apagai completamente a minha culpa!
Criai em mim um coração que seja puro.
Criai
em mim um coração que seja puro,
dai-me
de novo um espírito decidido.
Ó
Senhor, não me afasteis de vossa face
nem
retireis de mim o vosso Santo Espírito!
Criai em mim um coração que seja puro.
Dai-me
de novo a alegria de ser salvo
e
confirmai-me com espírito generoso!
Ensinarei
vosso caminho aos pecadores,
e para vós se voltarão os
transviados.
Criai em mim um coração que seja puro.
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