sexta-feira, 16 de março de 2012

DOMINGO DE RAMOS - ANO B



Refletindo o Evangelho do Domingo

Pe. Thomaz Hughes, SVD

DOMINGO DE RAMOS - ANO B

Mc 11,1-11

Bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!


Evangelho (Marcos 11,1-11)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João
11,1Quando se aproximaram de Jerusalém, na altura de Betfagé e de Betânia, junto ao monte das Oliveiras, Jesus enviou dois discípulos, 2dizendo: “Ide até o povoado que está em frente, e logo que ali entrardes, encontrareis amarrado um jumentinho que nunca foi montado. Desamarrai-o e trazei-o aqui! 3Se alguém disser: ‘Por que fazeis isso?’, dizei: ‘O Senhor precisa dele, mas logo o mandará de volta’”. 4Eles foram e encontraram um jumentinho amarrado junto de uma porta, do lado de fora, na rua, e o desamarraram. 5Alguns dos que estavam ali disseram: “O que estais fazendo, desamarrando esse jumentinho?” 6Os discípulos responderam como Jesus havia dito, e eles permitiram. 7Levaram então o jumentinho a Jesus, colocaram sobre ele seus mantos, e Jesus montou. 8Muitos estenderam seus mantos pelo caminho, outros espalharam ramos que haviam apanhado nos campos. 9Os que iam na frente e os que vinham atrás gritavam: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! 10Bendito seja o reino que vem, o reino de nosso pai Davi! Hosana no mais alto dos céus!” Palavra da Salvação. 

COMETÁRIO


Uma das grandes festas religiosas na tradição popular brasileira é a celebração da entrada de Jesus em Jerusalém, no Domingo de Ramos. Organizam-se procissões, o povo abana ramos, e pessoas que dificilmente pisam em uma igreja nos domingos comuns, hoje fazem questão de não perder a celebração. Tudo isso tem o potencial de ser muito positivo, mas para não reduzirmos a comemoração a mero folclore ou teatro, acredito ser importante aprofundar a partir de textos bíblicos o que significava este evento para Jesus, e para o evangelista.

Talvez o nosso entendimento da passagem - como de outros textos - é dificultado pela nossa pouca familiaridade com o Antigo Testamento. Para que entendamos bem o sentido do gesto profético de Jesus nesse evento, seria bom relembrar um trecho do profeta Zacarias: “Dance de alegria, cidade de Sião; grite de alegria, cidade de Jerusalém, pois agora o seu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num jumentinho, filho de uma jumenta... Anunciará a paz a todas as nações, e o seu domínio irá de mar a mar, do rio Eufrates até os confins da terra” (Zc 9, 9-10). Esse era um trecho muito importante na espiritualidade do grupo conhecido como os “Anawim”, ou “os pobres de Javé”, que esperavam ansiosamente a chegada do Messias libertador. Herdeiros dessa espiritualidade e esperança seguramente estavam Maria e José, e os discípulos/as de Jesus. Jesus foi educado dentro dessa espiritualidade. Zacarias traçava as características do verdadeiro messias - seria um rei, mas um rei “justo e pobre”; não um rei de guerra, mas de paz! Estabeleceria uma sociedade diferente da sociedade opressora do tempo de Zacarias (e de Jesus, e de nós) - onde poderosos e ricos oprimiam os pobres e pacíficos! Um rei jamais entraria em uma cidade montado em um jumento - o animal do pobre camponês, mas em um cavalo branco de raça! Então Jesus, fazendo a sua entrada assim, faz uma releitura do profeta Zacarias, e se identifica com o rei pobre, da paz, da esperança dos pobres e oprimidos!
Por isso, muitas vezes perdemos totalmente o sentido da entrada de Jesus em Jerusalém. Celebramos o evento como se fosse a entrada de um Presidente ou Governador dos nossos tempos, - de pompa, imponência e demonstração de poder e força. Parece muito mais ligado à prepotência de um déspota ou imperialista do que à figura de Jesus! O contrário do que significava o que Jesus fez! Chamamos o evento da “entrada triunfal de Jesus em Jerusalém” - e realmente foi uma entrada triunfal, mas como triunfo de Deus, que se encarnou entre nós como o Servo Sofredor, o triunfo da vida, morte e ressurreição de Jesus! Nada mais longe do sentido original deste evento do que manifestações de poderio e pompa, mesmo - ou especialmente - quando feitas em nome da Igreja e do Evangelho de Jesus!
O texto de hoje convida a todos nós a revermos as nossas atitudes. Seguimos Jesus - mas, será que é o Jesus real, o Jesus de Nazaré, o Jesus rei dos pobres e humildes, o Jesus cumpridor da profecia de Zacarias? Ou inventamos um outro Jesus - poderoso nos moldes da nossa sociedade, com força, poder e prestígio, conforme o mundo entende estes termos? É valiosa a advertência contida em um canto muito usado nas celebrações de hoje: “Eles queriam um grande rei, que fosse forte, dominador. E por isso não creram n’Ele e mataram o salvador!”
Realmente, acreditamos no rei dos pobres e oprimidos, ou só fazemos um folclore bonito no Dia de Ramos, totalmente desvinculado da mensagem verídica e profunda do profeta Zacarias e do Evangelho de hoje? Acreditamos na força do direito (Jesus e o seu projeto de vida) ou no direito da força (tantos poderosos do cenário mundial com o seu projeto de morte?).



   

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