Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
QUARTO DOMINGO DE PÁSCOA - ANO B
Jo 10,11-18
“O bom pastor se despoja da
própria vida por suas ovelhas”
Oração do dia
Deus eterno e todo-poderoso, conduzi-nos à comunhão das alegrias
celestes, para que o rebanho possa atingir, apesar de sua fraqueza, a fortaleza
do Pastor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
Evangelho (João 10,11-18)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
10,11 Disse Jesus: “Eu sou o
bom pastor. O bom pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. 12 O mercenário, porém, que
não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, quando vê que o lobo vem vindo,
abandona as ovelhas e foge; o lobo rouba e dispersa as ovelhas. 13 O mercenário, porém,
foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas. 14 Eu sou o bom pastor.
Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem a mim, 15 como meu Pai me conhece
e eu conheço o Pai. Dou a minha vida pelas minhas ovelhas. 16 Tenho ainda outras
ovelhas que não são deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a
minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor. 17 O Pai me ama, porque dou
a minha vida para a retomar. 18 Ninguém a tira de mim,
mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a
reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai”.
Palavra
da Salvação.
COMENTÁRIO
A imagem
escolhida é a do “pastor” - uma imagem muito usada nos escritos do Antigo
Testamento (Sl 40, 11; Ez 34, 15; 37, 24; Eclo 18, 13; Zc 11, 17; etc.). Às
vezes é aplicada ao próprio Deus (Sl 23, 1; Is 40, 11; Jr 31, 9), às vezes ao
futuro rei messiânico (Sl 78, 70-72; Ez 37, 24), às vezes aos líderes
político-religiosos de Israel (Jr 2, 8; 10, 21; 23, 1-8; Ez 34). Também os
Evangelistas Sinóticos a usaram bastante (Mc 6, 34; 14, 27; Mt 9, 36; 18,
12-13; 25, 32; 26, 31; Lc 15, 3-7). Jesus é realmente pastor, pois Ele, o Filho
do Homem, participa da condição humana, inclusive da morte, para nos conduzir à
vida eterna. A palavra grega aqui usada para “bom”, “kalos”, significa “ideal”
ou “nobre” e não somente eficiência na sua função. Assim é Jesus, pois
livremente despoja-se da sua própria vida para salvar a vida do seu rebanho.
O texto
contrasta a ação de Jesus com a atuação dos pastores mercenários, que não
defendem o rebanho, mas somente cuidam dos seus próprios interesses. Aqui o
texto está enraizado na tradição profética de Ezequiel (Ez 34) que condenava os
“maus pastores” do povo de Deus - os líderes religiosos e políticos do seu
tempo (antes do Exílio e nos anos entre a primeira deportação para Babilônia e
a destruição de Jerusalém em 587 aC) , que somente exploravam o povo para o seu
próprio proveito, abandonando-o na horas de maior necessidade. Quanta coisa do
tempo de Ezequiel e de Jesus pode ser aplicada quase que diretamente a muitos
líderes políticos (e às vezes religiosos) dos nossos tempos!
O trecho
destaca o verbo “conhecer” - Jesus conhece as suas ovelhas como conhece o Pai e
é conhecido pelo Pai. “Conhecer”, na linguagem bíblica, não significa um saber
intelectual, mas implica um relacionamento íntimo de amor e solidariedade. O
conhecimento que Jesus tem dos seus discípulos nasce e se plenifica no amor que
existe entre o Pai e o Filho. Não é um amor só de emoções ou sentimentos, mas
um amor exigente, de assumir o outro até o ponto de doar a vida. Assim, a morte
na Cruz - assumida livremente por Jesus - é a expressão suprema desse amor.
Mas, o amor
não pode se restringir aos irmãos e irmãs da comunidade. A utopia proposta por
Jesus é da união entre todos “os seus” - todos os povos do mundo. Aqui, talvez
haja uma referência às outras comunidades não-joaninas do tempo do escrito, mas
também podemos aplicar o texto à missão universal da Igreja - a de colaborar na
realização do Reino de Deus, pois todos os povos do mundo, sem distinção de
raça, cor, cultura ou religião, são misteriosamente ligados a Jesus, morto e
ressuscitado. Não devemos imaginar esse sonho como um crescimento da Igreja
visível até que toda a humanidade faça parte dela; mas, muito mais como a
realização do pedido do Pai-nosso - “seja feita a vossa vontade, assim na terra
como no Céu”, onde se procura o bem, a justiça e a fraternidade, mesmo fora da
Igreja visível, onde se realiza o Reino, ou Reinado, de Deus.
Como seguidores do Bom Pastor também somos
convidados à vivência desse mesmo amor que exige o despojo da própria vida.
Isso não implica necessariamente a morte física, mas, a morte ao egoísmo, e a
todos os “ismos” que nos dividem e separam, seja por causa do gênero, raça,
cor, classe ou cultura. Onde há luta em defesa da vida, lá existe a missão do
Bom Pastor. Ele que veio “para que todos tenham a vida e a tenham plenamente!”
(Jo 10, 10).
Salmo responsorial 117/118
A pedra que os pedreiros rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular.
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!
“Eterna é a sua misericórdia!”
É melhor buscar refúgio no Senhor
do que pôr no ser humano a esperança;
é melhor buscar refúgio no Senhor
do que contar com os poderosos deste mundo!
A pedra que os pedreiros rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular.
Dou-vos graças, ó Senhor, porque me ouvistes
e vos tornastes para mim o Salvador!
“A pedra que os pedreiros rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular.
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
que maravilhas ele fez a nossos olhos!
A pedra que os pedreiros rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular.
Bendito seja, em nome do Senhor,
aquele que em seus átrios vai entrando!
Vós sois meu Deus, eu vos bendigo e agradeço!
Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores!
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom!
“Eterna é a sua misericórdia!”
A pedra que os pedreiros rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular.