Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
TERCEIRO DOMINGO DE PÁSCOA - ANO B
Lc 24,35-48
“E vocês são testemunhas
disso.”
Oração do dia
Ó Deus, que o vosso povo sempre exulte pela sua
renovação espiritual, para que, tendo recuperado agora com alegria a condição
de filhos de Deus, espere com plena confiança o dia da ressurreição. Por Nosso
Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Evangelho (Lucas 24,35-48)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo
Lucas.
24,35 Os dois
discípulos, por sua parte, contaram o que lhes havia acontecido no caminho e
como o tinham reconhecido ao partir o pão. 36 Enquanto
ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: “A
paz esteja convosco!” 37 Perturbados
e espantados, pensaram estar vendo um espírito. 38 Mas ele lhes
disse: “Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações?
39 Vede minhas
mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem
ossos, como vedes que tenho”. 40 E, dizendo
isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41 Mas,
vacilando eles ainda e estando transportados de alegria, perguntou: “Tendes
aqui alguma coisa para comer?” 42 Então
ofereceram-lhe um pedaço de peixe assado. 43 Ele tomou e
comeu à vista deles. 44 Depois lhes
disse: “Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que
se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e
nos Salmos”. 45 Abriu-lhes
então o espírito, para que compreendessem as Escrituras, dizendo: 46 “Assim é que está escrito, e assim era necessário que
Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia. 47 E que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão
dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48 Vós sois as testemunhas de tudo isso”.
Palavra da Salvação.
COMENTÁRIO
O evangelho
de hoje é a segunda parte do capítulo 24 de Lucas, que relata primeiro a
história das mulheres diante do túmulo de Jesus, e agora o incidente do encontro
de Jesus Ressuscitado com os dois discípulos na estrada de Emaús. Devemos
recordar que Lucas estava escrevendo a sua obra em vista dos problemas da sua
comunidade pelo ano 85 d.C. Já não estamos mais com a primeira geração de
discípulos - já se passou mais de meio século desde os eventos pascais. A
comunidade já está vacilando na sua fé - as perseguições estão no horizonte, ou
até acontecendo; o primeiro entusiasmo diminuiu, os membros estão cansados da
caminhada e perdendo de vista a mensagem vitoriosa da Páscoa. Parece que é mais
forte a morte do que a vida, a opressão do que a libertação, o pecado do que a
graça.
Neste
cenário, Lucas escreve este capítulo. Traz uma mensagem de ânimo e coragem aos
desanimados e vacilantes da sua época - e da nossa! Para as mulheres, os dois
anjos perguntam “por que estão procurando entre os mortos aquele que está
vivo?” E afirmam: “Ele não está aqui! Ressuscitou!” Mensagem atual para os
nossos tempos - diante da péssima situação de tantas pessoas que enfrentam a
dura luta pela sobrevivência, com desemprego, baixo salário, falta de terra e
moradia, uma herança de décadas de descaso dos governantes com a saúde pública
e a educação, é muito fácil perder a esperança e a coragem. Como a Campanha da
Fraternidade recente quis animar os cristãos na luta para que todos tenham uma
vida digna, vencendo a apatia e a passividade, o nosso texto quer nos lembrar
que Jesus venceu o mal, não foi derrotado pela morte, e está no meio de nós!
Os dois
discípulos no caminho de Emaús são imagem viva da comunidade lucana - e de
muitas hoje! Já sabem do túmulo vazio, mas estão desanimados, desiludidos, sem
forças - pois ainda não fizeram a experiência da presença de Jesus
Ressuscitado. Pois, a nossa fé não se baseia no túmulo vazio, mas pelo contrário,
a nossa experiência do Ressuscitado explica porque ele ficou vazio. Os dois só
fazem esta experiência quando partilham o pão! A Escritura fez com que os seus
corações “ardessem pelo caminho” (v. 32), mas não lhes abriu os olhos - para
isso era necessário formar uma comunidade celebrativa de fé e partilha:
“contaram... como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o pão” (v. 35).
Finalmente,
o grupo dos discípulos reunidos em Jerusalém é símbolo das comunidades confusas
e vacilantes. Tinham dificuldade em acreditar - pois a mensagem da Ressurreição
é realmente espantosa! Mas, uma vez feita essa experiência, eles se transformam
e se tornam testemunhas vivas do que sentiram, experimentaram e vivenciaram: “E
vocês são testemunhas disso” (v. 48). Um grupo de derrotados, desesperançados e
desunidos (vv. 20-21) se transformam num grupo de missionários corajosos e
convictos, assumindo a tarefa de anunciar “no seu nome a conversão e o perdão
dos pecados a todas as nações” (v. 47).
Nos dias de hoje, quando
muitos cristãos se desanimam, ou restringem a sua fé à esfera particular, sem
que tenha qualquer influência sobre a sua vivência social, a mensagem de Lucas
nos convida a redescobrirmos a realidade da presença do Ressuscitado entre nós.
Mas, essa experiência não serve somente para o nosso consolo pessoal - somos
comandados a imitar os dois de Emaús, que, feita a experiência do Ressuscitado,
“levantaram na mesma hora e voltaram para Jerusalém” (v. 33). Pois, a nossa
experiência religiosa não é algo intimista e individualista, mas algo que nos
deve propulsionar para a missão, para a construção de um mundo conforme a
vontade de Deus, um mundo de justiça, paz e integridade da criação, sem
excluídos e marginalizados, sob qualquer pretexto que seja!
Salmo responsorial 4
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
Quando eu chamo, respondei-me, ó meu Deus, minha
justiça!
Vós que soubestes aliviar-me nos momentos de aflição,
atendei-me por piedade e escutai minha oração!
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
Compreendei que nosso Deus faz maravilhas por seu
servo
e que o Senhor me ouvirá quando lhe faço a minha
prece!
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
Muitos há que se perguntam: “Quem nos dá felicidade?”
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço,
pois só vós, ó Senhor Deus, dais segurança à minha
vida!
Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!
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