Refletindo o Evangelho do Domingo
Pe. Thomaz Hughes, SVD
DOMINGO DE PÁSCOA - ANO B
Jo 20,1-9
“Ele viu e acreditou”
Os quatro
evangelhos relatam os acontecimentos do Dia da Ressurreição, cada um de acordo
com as suas tradições. Certos elementos são comuns a todos: o fato do túmulo
vazio, de que as primeiras testemunhas eram as mulheres (embora divirjam quanto
ao seu número e identidade e o motivo da sua ida ao túmulo - para ungir o
corpo, ou para vigiar e lamentar), e que uma delas era Maria Madalena. Podemos
tirar disso a conclusão que as mulheres tinham lugar muito importante entre o
grupo dos discípulos de Jesus, e que elas eram mais fiéis do que os homens,
seguindo Jesus até a Cruz e além dela! Infelizmente, outras gerações fizeram
questão de diminuir a importância das discípulas na tradição - e a Igreja sofre
até hoje as consequências.
Lendo os
relatos, um fato salta aos olhos - ninguém esperava a Ressurreição! Para os
discípulos, a Cruz era o fim da esperança, a maior desilusão possível. Se
somarmos a isso o fato que todos eles traíram Jesus (ou por dinheiro, ou por
covardia), podemos imaginar o ambiente pesado entre eles na manhã do Domingo.
Nesse meio, chega a Maria com a notícia de que o túmulo estava vazio - e ela,
naturalmente, pensa que o corpo tinha sido roubado. Ressurreição - nem pensar!
No nosso texto, Pedro (que tem um papel importante nos textos
pós-ressurrecionais) e o Discípulo Amado (anônimo, mas segundo os estudos mais
recentes quase certamente não um dos Doze) correm até o túmulo. O texto deixa
entrever a tensão histórica que existia entre a comunidade do Discípulo Amado e
a comunidade apostólica (representada por Pedro). Pois, o Discípulo Amado
espera por Pedro (reconhece a sua primazia), mas enquanto Pedro vê sem
acreditar, o Discípulo Amado acredita. No Quarto Evangelho, Pedro só realmente
vai conseguir amar Jesus no Capítulo 21, enquanto o Discípulo Amado é o tal
desde Capítulo 13. Só quem olha com os olhos do coração, do amor, penetra além
das aparências!
Como em
Lucas 24, na história dos Discípulos de Emaús, o texto demonstra que a nossa fé
não está baseada num túmulo vazio! Não é o túmulo vazio que fundamenta a nossa
fé na Ressurreição, mas o contrário - é a experiência da presença de Jesus
Ressuscitado que explica porque o túmulo está vazio! Cuidemos de não procurar
bases falsas para a nossa fé no Ressuscitado!
Hoje em dia,
quando olhamos para o mundo ao nosso redor, é fácil não acreditar na vitória da
vida sobre a morte. Há tanto sofrimento e injustiça - guerra, violência,
corrupção endêmica, miséria, a saúde e a educação sucateadas! Só uma
experiência profunda da presença de Jesus libertador no meio da comunidade
poderá nos sustentar na luta por um mundo melhor, com fé na vitória final do
bem sobre o mal, da luz sobre as trevas, da graça sobre o pecado!
Nós todos
somos discípulos/as amados/as, pois “nada nos separa do amor e Deus em Jesus
Cristo” (Rm 8); mas, será que somos discípulos amantes? Será que amamos a Jesus
e ao próximo? E lembramos que o ágape, o amor proposto pelo evangelho, não é um
sentimento, mas uma atitude de vida, de solidariedade, de partilha, de justiça.
“O amor consiste no seguinte: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que
nos amou, e nos enviou o seu Filho como vítima expiatória por nossos pecados.
Se Deus nos amou a tal ponto, também nós devemos amar-nos uns aos outros” (1Jo
4, 10-11).
Que a
mensagem da Ressurreição, da vitória da vida sobre a morte, nos anime e dê
força, todos os dias da nossa vida, mas especialmente quando a Cruz pesar
muito.
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